quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Para depois do Natal





Mais duas edições para a série de livros de textos teatrais levados ao palco pela Companhia de Teatro de Almada. Duas propostas quase antagónicas (e daí, quem sabe, talvez não) que estreiam em Janeiro próximo: A Mãe de Bertold Brecht (com um agradecimento à Suhrkamp pela amável autorização de publicação) e Uma Visita Inoportuna, uma comédia frenética de Copi (ou Raul Damonte).

sábado, 19 de dezembro de 2009

Editor: uma imagem em metamorfose

Este post do ex-editor da Cavalo de Ferro Hugo Xavier suscita-me algumas reflexões sobre o papel do editor, sobretudo numa fase de transição do papel tradicional e confortável do gestor criativo de projectos literários produzidos no seio de uma empresa (leia-se, com subalternos ou colegas responsáveis pela execução das diversas tarefas técnicas decorrentes dessa gestão e das decisões daí derivadas) para o de (como no caso) editor disponível ou no "desemprego", uma associação que enferma de uma contradição interna, pois se há sector do mercado de trabalho que menos "empregos" (leia-se, contratos de trabalho em full time) tem gerado ou mantido esse será certamente o da edição (pago um almoço a quem me mostrar, nos jornais da próxima semana, um anúncio vindo de uma editora ou grupo editorial que não seja da "área comercial").

Frequentei uma dessas pós-graduações especializadas em edição (frequência da qual, diga-se, não me arrependo), mas durante todo o tempo em que a frequentei, e até depois, ela não pesou um grama nas entrevistas ou contactos que tive para "empregos" (leia-se agora, prestações de serviço a recibo verde) na área da edição. Isso tirou-me de vez as dúvidas sobre o hipotético valor de uma formação especializada em edição como chave de entrada nesse suposto "mercado" editorial (foi o meu momento "novas oportunidades", mas serviu, como tal, de experiência).

A conclusão a que chego, após quase 4 anos dentro do projecto Livros de Areia, é a de que o editor, o pequeno e médio editor que não tem business angels ou uma estrutura corporativa a sustentá-lo, tem de, literalmente, saber fazer o livro todo de montante a jusante: dos contactos com os agentes à preparação do material de promoção (press releases, blogues e websites), passando pela paginação e design do livro, da sua revisão e (quando necessário) tradução, tudo isto tem de voltar a ser a "massa" do editor, e não apenas a "escolha" de bons livros para a "sua" chancela. A cultura e a erudição dentro dos conteúdos já não chega. Há um exemplo histórico dessa necessidade urgente de retoma dos "meios de produção" (um termo marxista que fica bem em época de bailouts à banca neo-liberal): a criação da Hogarth Press por Leonard e Virginia Woolf, dois intelectuais que, em meses, e por extrema urgência de publicar o que achavam que devia ser publicado, aprenderam e dominaram uma tecnologia bem mais exigente fisicamente (imaginam Virginia Woolf com tinta preta no sabugo das unhas partidas?) do que a que, agora, envolve um rato e um teclado de plástico (leiam Leonard and Virginia Woolf as Publishers de J. H. Willis).

Se hoje posso usar o (cada vez mais vulgarizado e ridiculamente pomposo) título de "editor", e se hoje o projecto que me permite usar esse título ainda existe, sem condenações em tribunal por más práticas laborais ou má fé no tratamento a prestadores de serviços, sem dívidas ao Estado ou a qualquer outro credor e com uma conta bancária no verde, é porque tudo o que diz respeito à produção dos livros que por cá se podem ir fazendo – salvo uma ou outra tradução, duas encomendas pontuais de ilustrações e, obviamente, a impressão final – sai das mãos que dirigem esse projecto (às quais se juntaram algumas outras, a quem devemos um enorme agradecimento). Esse seria, pois, o "conselho" (palavra muito pesada, mas para a qual não me ocorre nenhum sinónimo mais adequado) que daria a quem quer experimentar isto de ser "editor": olhem menos para o J. Peterman do Seinfeld, de cachimbo permanentemente aceso enquanto debitava as suas ideias "geniais" aos assistentes (e olhem ainda menos para as notícias das "transferências" milionárias entre chancelas de holdings editoriais), e mais para um Leonard Woolf suado, de mangas arregaçadas, a tentar compor uma linha de tipos metálicos num componedor para um poema de T. S. Elliot numa cave em Londres durante a I Guerra Mundial. Não será a imagem mais glamorosa, mas, nesta iminente metamorfose da imagem do "editor" em época de recessão mundial e de tecnologia barata e acessível, parece-me ser a mais inspiradora.
(PM)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Desolação: duas imagens

Duas imagens de livros à venda (ou que já o tinham estado) que registei (ainda que não mecânica ou digitalmente, i.e., não tenho uma foto como testemunho) no início de Dezembro, e que me parecem ilustrar, infelizmente, um aparente fracasso de duas vias alternativas ao comércio de livros tradicional, ou seja, a venda em livrarias de pequena ou grande dimensão.
Na Rua Áurea, os restos da que foi durante uns meses a livraria da Cavalo de Ferro são uma triste prova da impossibilidade de recuperar um modelo "clássico" de comércio de livros: o da livraria de editora. Independentemente das contingências deste projecto em particular (e sobre elas não quero elaborar, nem posso dada a minha ignorância da matéria em causa), mete dó ver livros abandonados como se no momento anterior a um cataclismo em plena Baixa de Lisboa, as capas retorcidas e descoloradas pela exposição ao sol, pó por todo o lado, penumbra ao fundo.
Um dia depois, no corredor subterrâneo de acesso ao edifício principal da Estação de Campanhã. A azáfama dos passageiros que vão para as bilheteiras ou vêm destas para os comboios parece ignorar por completo uma máquina de venda de livros da Leya. A máquina ao lado, que vende guloseimas e bebidas, é disputada por 3 ou 4 miúdos, com uma agressividade que atrai um dos seguranças. Fico com a sensação de que se quisesse vandalizar a máquina da Leya estaria a fazer um favor a alguém, e o máximo que o segurança me perguntaria (se é que dava por isso) seria: "para quê?"
(PM)

sábado, 12 de dezembro de 2009

BURACOS NEGROS é um dos 52



O nosso único livro de 2009 (estávamos a contar com um ano de retoma, mas a crise obrigou a uma maior contenção) acaba de ser escolhido como um dos 52 livros do ano (um por cada semana) pela revista LER (edição de Dezembro, p. 55). BURACOS NEGROS de Lázaro Covadlo é um dos 52 títulos em destaque.
Apenas discordamos da frase de chamada na capa: "títulos que só deviam vender-se com receita médica. Porque são bons". Está na altura de se perceber que a qualidade literária (ou de edição) não exige obrigatoriamente sacrifícios por parte dos interessados: está acessível por pouco dinheiro e sem necessidade de "receitas". E se as livrarias a escondem ou devolvem após pouco tempo de exposição (se é que a expõem de todo...), então será a net a fazer chegar essa qualidade às mãos de quem a procura. Porque a qualidade é o prémio de quem é proactivo e curioso, e não de quem se queixa de que "não viu o livro na livraria". (Disclaimer: quem concluir que destas palavras se pode inferir que uma livraria pode ser um buraco negro, onde certos livros desaparecem mal chegam, deverá fazê-lo sem imputar-nos a responsabilidade dessa conclusão.)

sábado, 28 de novembro de 2009

PEC RIP

Tal como na lenda, o monstro parece estar prestes a morrer às mãos do seu criador. O Pagamento Especial por Conta, um dos melhores eufemismos para "roubo à mão armada" de que há memória (apenas igualado pelo recente "orçamento redistributivo"), pode ter, finalmente, os dias contados, se a vontade dos grupos parlamentares na oposição (encabeçados pelo PSD de Manuela Ferreira Leite, a criadora da coisa) passar da fase da "generalidade" para as discussões "específicas". Como o Estado a quem temos pago tantas centenas de Euros "por conta" não parece ter tido qualquer plano de redistribuição desse dinheiro na forma de apoios à edição ou à distribuição (a não ser que "autoestrada" seja sinónimo de política cultural), esta é uma excelente notícia, mesmo para pessimistas como nós que acreditam que em Portugal, e como diria Lavoisier, os monstros não morrem, transformam-se.
(PM)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Descontos radicais



Via A Namorada de Wittgenstein, descubro isto, que desconhecia de todo: edições da Mondadori em que o desconto é tão grande que atinge o título. E eis que quem procurasse 1984 de George Orwell saía com um exemplar de 1388,8... Segundo Maria João Freitas, o desconto extendia-se a títulos não numerários, o que cria um campo de possibilidades verdadeiramente bizarras. (Ou estamos a falar apenas de uma campanha publicitária?...) As coisas que uma editora poderosa consegue nas negociações de direitos...
(PM)

domingo, 15 de novembro de 2009

Vamos rasgar o livro

Há mais de 20 anos, costumava ouvir na Antena 1 um programa chamado O Dois do Quelhas. Ouvia-o apenas por uma razão: uma "rubrica" chamada, se não estou em erro, "Vamos Partir o Disco". Nela, o realizador Paulo Fernando punha a rodar 3 ou 4 faixas de um disco de música portuguesa e atrevia-se a algo que era absolutamente inédito então (e impensável agora, na era das playlists): recorrendo à lógica mais irredutível, analisava as letras de duvidosa qualidade das músicas e concluía, invariavelmente: “este disco é intocável mas, felizmente, não é inquebrável!” E quebrava o disco!
Lembrei-me disto ao ler alguns posts de um/a misterioso/a crítico/a online, que se esconde atrás de uma máscara e usa um chicote de forma certeira, muito ao estilo (perdoar-me-á ele/ela pela associação, mas faço-a como um elogio) do Paulo Fernando. Máscara&Chicote é mesmo o nome da coisa, e vale a pena ler este post sobre alguns dos livros publicados por uma das vanity presses da praça (no caso, do largo...). Pena é que não se possa ouvir, no fim, o som de um livro a ser rasgado.
(PM)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Adiados

Uma vez que se encontram ainda em trabalho de edição, e porque lançar livros à arena livreira de Dezembro nem os Romanos faziam, tanto A Simbólica do Espaço em O Senhor dos Anéis de Tolkien de Maria do Rosário Monteiro (lembramos: o primeiro ensaio sobre a obra-prima da literatura de fantasia escrito e publicado em Portugal) como Fome de Elise Blackwell serão adiados para depois da silly season das Festas e do Ano Novo.

A "lei" de Barnum

A propósito do fenómeno das vanity presses (editoras ou chancelas de editoras que publicam apenas na condição de os autores arcarem com todas as despesas da edição), que deu recentemente uma acesa polémica que pode ser seguida aqui e aqui (e sobre a qual não pretendemos alargar-nos), fica, à consideração e reflexão dos interessados, o excerto de um email vindo de um potencial "autor", que, já publicado anteriormente por uma dessas empresas, sente agora "algumas dificuldades" em publicar a sua restante produção:

"Depois disso escrevi mais seis romances, mas estou a experimentar algumas dificuldades na sua publicação devido à exigência das editoras para que sejam angariados patrocinadores que assumam uma parte das despesas. Por outro lado, também não tenho disponibilidades financeiras que me permitam arcar sózinho [sic] com esse encargo, pelo que estou actualmente em busca de uma editora que não faça depender a edição dessa exigência."

Pondo de parte questões não despiciendas como, por exemplo, a de saber quais são essas editoras (além das que já se sabe serem vanity presses) que exigem a um autor de obras de ficção que angarie patrocinadores(!), é importante que fique claro que, se há empresas de prestação de serviços editoriais que agem desta forma, tornando autores em clientes, isso se deve também à ilusão de milhares de pessoas que "gostam de escrever", "até têm jeito para escrever" ou (pior) já escreveram "uns romances", e que, em troca de 1 ou 2 exemplares impressos (pagos por elas, além do que já pagaram para serem "escolhidas") e de uma ténue esperança de 1 ou 2 semanas de exposição numa "livraria", entregam alguns milhares de euros a pessoas que consideram "editores" e, por associação, passam a considerar o acto de publicar ou ser publicado como uma mera transacção comercial e não como efeito de mérito e produto do esforço intelectual.

P. T. Barnum era empresário do circo e não cientista, mas não deixou de proferir uma das leis "oficiosas" sobre o comportamento humano mais continuamente provadas pela prática que se conhecem: there's one sucker born every minute (houve quem acrescentasse ao adágio: and two to take him), significando que os seus espectáculos (freak shows) de mulheres-barbudas e outras "maravilhas" não teriam qualquer sucesso sem o ingénuo entusiasmo de milhares de crédulos... e a hábil manipulação de sonhos por parte de "empresários" astutos.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Critics, please get your insults right!

Um texto brilhante de Rhys Hughes sobre a subtil diferença entre "pretentious", "pompous" e "grandiose". Ao cuidado dos tradutores... e críticos da nossa praça.

Blogue de Emergência

A Saída de Emergência chegou finalmente aos blogues. O deles pode ser consultado aqui.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Panorama pálido, debate animado

Na sessão de dia 27 de "Com Todas as Letras", a série de debates que têm vindo a ser organizados pela Os Meus Livros e pela SPA, o editor Pedro Reisinho esteve, teremos de referi-lo, em clara desvantagem à partida. Na mesa com Luís Corte-Real (editor da Saída de Emergência) à sua esquerda e com David Soares e João Seixas à sua direita (respectivamente, autor e colaborador pontual da Saída de Emergência), o editor da Gailivro podia queixar-se de um alinhamento em seu desfavor neste debate sobre a edição de ficção científica, horror e fantástico. A seu favor, como todos o sabemos, os números dos tops e das vendas astronómicas.

Se bem que tenham aberto o debate em concordância, com uma leitura trágica das possibilidades de sucesso financeiro da edição de FC em Portugal (Reisinho terá mesmo confessado que a publicação de autores portugueses do género, como Telmo Marçal ou João Barreiros, é feita já com a expectativa de fraquíssimas vendas, quase uma edição de "caridade"), confessando ainda ambos que a FC que publicam é paga com as receitas das vendas de títulos de géneros bem mais rentáveis, a divergência entre os dois editores começou a tornar-se evidente. Mais directo e realista, Corte-Real via-se secundado pelas boas prestações de Soares e Seixas (que chegou a trazer uma pequena estatística que provava o real declínio da edição de FC por cá) na fixação de um panorama da publicação e da recepção nacionais aos géneros em causa. A desvantagem do alinhamento pesou então sobre Reisinho, que, acompanhado apenas de 2 exemplares de livros seus e recentemente lançados (um livro de contos de Telmo Marçal e um romance de Octávio dos Santos), se limitou à possível defesa do seu catálogo, mesmo quando a qualidade das obras de Stephanie Meyer, por exemplo, foi dura e repetidamente atacada tanto por David Soares como por João Seixas.

Por intermédio de uma pergunta vinda de um aluno de Belas-Artes na assistência (que foi compondo o auditório até quase o encher, uma boa surpresa para os pessimistas), a conversa orientou-se para a qualidade das capas e do grafismo na FC em Portugal, e aí uma certa impreparação de Reisinho foi subitamente notória: interrogado por mim quanto ao facto de a Gailivro ter colocado na capa do livro de Marçal uma imagem da série A Quinta Dimensão sem qualquer creditação ou menção da fonte da imagem (algo que eu descobrira e apontara aqui), o editor, além de confessar não saber que a imagem era da série, não se lembrava sequer de que essa menção não estava assinalada no livro. O meu argumento era (e é) que a "nobilitação" de um género passa também pela assunção de uma genealogia iconográfica e pela sua devida (e até orgulhosa) menção nos livros publicados. Apesar destas fraquezas na preparação para o debate, e de um alinhamento claramente desfavorável, creio, contudo, que Pedro Reisinho se defendeu de forma desportiva e, quando foi imperativo, sensata, ao reconhecer (perante a insistência de João Morales, o moderador) que a creditação na ficha técnica teria sido aconselhável no caso do livro de Marçal.

Em suma, um debate muito vivo, directo, alargado (poucas vezes me lembro de ouvir, neste tipo de evento übber-literários, uma tão boa discussão sobre o design editorial, no caso da FC), com boas intervenções do público (Ricardo Loureiro e António de Macedo, por exemplo). Talvez o pessimismo inicial dos dois editores na mesa, os líderes na publicação destes géneros em Portugal, possa ser revertido.
(PM)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

J. M. Coetzee sobre Hunger

"In Elise Blackwell’s original and engrossing short novel, Leningrad during the German siege forms the background for an exploration of love and betrayal, as well as for some richly sensual evocations of the pleasures of eating." J. M. Coetzee

Fome, de Elise Blackwell

"As pessoas faziam de tudo para darem de comer aos filhos. Vendiam o que era valioso e sentimental. Matavam e cozinham animais domésticos estimados. Prostituíam-se. Prostituíam as crianças que precisavam de ser alimentadas. Roubavam, eram coniventes e matavam. Faziam as mulheres passar fome. Elas próprias passavam à fome.

Tantas vezes, uma dúzia de vezes, foi-me dito o quão sortudo era por não ter filhos, como era mais fácil para nós, com poucas bocas para alimentar, não ter de ouvir os gritos horrorosos, não ter de ver aqueles que amamos mais do que tudo, aqueles que dependem somente de nós, a sofrer. Oh, a responsabilidade, diziam as pessoas. E eu pensava, oh, a claridade.

Eu ansiava pela lucidez da paternidade durante os maus tempos – talvez na mesma medida que Alena tinha ansiado pelo amor e o doce cheiro de um bebé antes de os tempos se tornarem maus.
O território moral sombrio no qual caminhava ter-se-ia tornado uma paisagem inteiramente diferente com crianças. Quem culpa um pai por roubar se é para alimentar o filho pequeno? Um pai diz a si próprio: eu faço o que tenho de fazer para que a minha criança sobreviva a este tempo. Os pais podem fazer tudo o que lhes aprouver e dizer: temos que ter a certeza de que os nossos filhos sobrevivem, e nós temos que sobreviver para cuidar deles.

Eu não me podia dar a esse luxo. Não importava se vivesse, nem mesmo para mim. Mas não podia suportar a dor que existia entre mim e a morte. Era essa fome cinzenta, e não a própria morte, que temia, que evitava a custo de toda a honra. Como os políticos mais inteligentes sabem e repetem, os ideais nada são para o homem que se senta a uma mesa vazia."

Dilemas morais e sobrevivência na Leninegrado sitiada de 1941-43, recordados, muitos anos depois e em Nova Iorque, por um cientista com um terrível segredo. Eis Fome, um livro de Elise Blackwell , de que J. M. Coetzee disse em 2003 ser um dos melhores livros que já lera. Para breve, com tradução de Safaa Dib.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A leitora que disse "chega"



"O ultimo livro de
Lázaro Covadlo, editado pela Livros de Areia, andava-me a perseguir desde o momento em que saiu. Naquela tarde disse 'chega', sentei-me e resolvi o assunto. É, sem qualquer dúvida, o melhor conjunto de contos que li nos últimos tempos." Quem escreveu estas linhas sobre BURACOS NEGROS foi a Eduarda Sousa no seu blogue, que teve ainda o amável descaramento de o recomendar ao Jorge Fallorca. E quem somos nós para dizer que a Eduarda não tem razão?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

J. R. R. Tolkien e a fantasia

"Um dos grandes impulsionadores do interesse pela fantasia foi J. R. R. Tolkien. Com a obra O Senhor dos Anéis, Tolkien colocou este subgénero literário num lugar de destaque dentro da produção ficcional contemporânea. Tolkien recupera não só o passado medieval cristão e as lendas antigas (como fizeram os românticos), mas vai mais longe, recuperando o passado mítico quer dos povos da Europa do Norte, quer dos celtas. Em 1954, nada fazia prever que uma narrativa que se baseava em textos míticos como o Kalevala ou as Eddas se tornasse num sucesso editorial que já dura há cinco décadas. O êxito imediato de O Senhor dos Anéis teve tanto de inesperado como de duradouro. Uma das consequências directas do sucesso foi o aparecimento, a partir de meados da década de sessenta, de um grande número de escritores que se dedicaram à fantasia. Muitos foram apenas imitadores menores de Tolkien, escritores sem a preparação cultural necessária para criarem verdadeira e inovadoramente dentro do subgénero literário. Outros, contudo, beneficiando do interesse comercial das editoras pelo fantástico, puderam publicar obras verdadeiramente criativas, explorando outras áreas do fantástico para além das desenvolvidas por Tolkien. Escritores como Michael Moorcock, Ursula K. Le Guin, Gene Wolfe, Roger Zelazny, entre outros, deram novos mundos à literatura fantástica contemporânea, inovando o género.

Um dos maiores problemas que um autor de literatura fantástica enfrenta (particularmente o do subgénero da fantasia) é o da comunicação efectiva da visão fantástica, o que faz com que o escritor seja obrigado a atender a um conjunto de regras estilístico-formais que raramente são alteradas. Para que uma visão fantástica possa ser comunicada, e não se reduza à expressão de uma mera ilusão ou sonho, é necessário que inclua elementos lógico-racionais que lhe dêem coerência interna e contribuam para a sensação de verosimilhança necessária para a participação do leitor nas aventuras narradas. Tendo em mente as regras que enquadram o género e evitam que uma obra caia na sucessão demente de acontecimentos irracionais, o autor tem ainda que dominar algumas técnicas narrativas e estético-literárias que caracterizam o subgénero, e que são:

1. A narrativa na terceira pessoa (preferencial, mas não obrigatória).
2. A presença de personagens com quem o leitor se identifique, fazendo, deste modo, com que ele participe na acção.
3. A inclusão de momentos de tensão seguidos de momentos de relaxamento.
4. A utilização de elementos fantásticos, impossíveis ou sobrenaturais, bem como de seres estranhos, míticos, lendários ou irreais que contribuem para a carga eminentemente simbólica da fantasia.
5. O recurso frequente a descrições pormenorizadas do espaço onde se desenrola a acção, para possibilitar uma «visualização» tão completa quanto possível do mundo imaginário.

A estas técnicas podem juntar-se outras recolhidas de géneros literários afins. O fantástico em geral, e a fantasia em particular, propõem visões alternativas e múltiplas do mundo e do homem. A carga mítico-simbólica presente nestas obras tende a apontar para um passado «mágico», o que não faz, necessariamente, com que as fantasias sejam meras nostalgias literárias, reaccionárias e escapistas. Através da recuperação e reelaboração de elementos histórico-culturais de épocas anteriores, juntamente com a activação de estruturas mentais específicas, as fantasias propõem o restabelecimento do equilíbrio psíquico perdido pela sobrevalorização da consciência e dos esquemas lógico-racionais que caracterizam a sociedade ocidental desde o século XVIII.

Ao contrário do que às vezes se pensa, a valorização da «visão fantástica» não tem por objectivo substituir a componente racional pela irracional. Não se pretende dar primazia às estruturas do inconsciente sobre as da consciência, nem tão pouco se propõe que, face aos limites evidentes das noções consensuais de realidade, estas sejam substituídas pela pura fantasia. A importância da consciência no funcionamento psíquico do homem moderno ocidental é um dado concreto inalienável, a causa primeira da sua evolução, e condição basilar da liberdade do indivíduo. As estruturas da consciência são fundamentais para o relacionamento do ser humano com o mundo que o rodeia e com os outros. Porém, a consciência não é função única no psiquismo humano, um compartimento estanque que permita ignorar tudo o resto. Do mesmo modo que o mundo não existe em função de uma espécie, a humanidade não partilha, na sua totalidade, da Weltanschauung ocidental. A realidade impõe a todo o momento o confronto com a heterogeneidade cultural, social, política, económica e religiosa como característica do mundo em que vivemos."

Excerto de A Problemática do Espaço em "O Senhor dos Anéis" de Maria do Rosário Monteiro (no prelo).

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O que o juiz vai ver (II)



MACBETH (1971)
Um filme sobre uma peça do Sr. Shakespeare em que nenhum dos actores usa collants e fala como o Sr. Olivier?... Crime de lesa-majestade! Bruxas velhas, sujas e nuas , Lady Macbeth... nua (jovem, mas infelizmente não adolescente... pena, podíamos apanhá-lo já aqui!), um Macbeth que mata mesmo e não se limita a falar sobre isso e nem uma cena com o Ian McKellen de barba branca... Culpado! (N.º de adolescentes violadas no filme: bem..., de facto... nenhuma)



WHAT? (1972)
Uma "comédia absurda" (como pode uma comédia ser absurda senão na cabeça de um pervertido? – anotar esta ideia para passar ao Procurador) baseada na Alice no País das Maravilhas em que uma jovem americana (adolescente??... pois, não...) foge a uma tentativa de violação (ahhh, começamos a ter algo...) se perde numa villa de degenerados (pronto, apanhámo-lo!)... mas passa o resto do filme a fugir de um Marcello Mastroianni meio impotente e no meio de outras personagens que não se interessam por ela... Pelo topete de fazer um filme onde nada se passa, e ainda por cima com música de Schubert, culpado! (N.º de adolescentes violadas no filme: a minha secretária está a trazer-me a contagem neste momento, é agora , é agora que o apanha... zero...)



CHINATOWN (1974)
Pelo simples topete de afirmar que a bela e muy justa cidade de Los Angeles é o produto da corrupção moral e da especulação imobiliária, este senhor já têm garantidos uns 99 anos de prisão, à minha conta (nota: negar ligações do meu avô ao escândalo de compra de terras "inúteis" nos anos 30, caso venham a público). De novo facas, que o Sr. Polanski introduz voluntária e deliberadamente na narina dessa instituição americana que é o Sr. Nicholson, o que lhe dará mais umas dezenas de anos de acumulação de pena. Falta apenas que me tragam a contagem das violações para fechar este caso, e nem preciso de ver mais nada... (N.º de adolescentes violadas no filme: zero)



O INQUILINO / THE TENANT (1976)
As coisas compõem-se: Polanski gosta de se vestir de mulher e este filme é a prova cabal (e, quanto a mim, final) disso mesmo. Também bate numa criança (nota: aconselhar a equipa de acusação a ignorar o facto de ele estar a, como se diz?, "representar" um esquizofrénico), fuma e deixa cair lixo no corredor quando o vai pôr à rua... Culpado! (N.º de adolescentes violadas no filme: pois, já sei, não muitas... quero dizer, nenhuma)

O que o juiz vai ver (I)

Com o perdão já concedido publicamente (no Larry King Live) pela então adolescente Samantha Geimer (e agora mãe de família que não deseja expor os seus filhos a este inferno), com dezenas de testemunhas abonatórias do carácter de Polanski por toda Los Angeles, com as provas da má condução do caso por parte do juiz Rittenband em 1977 reunidas no filme Polanski: Wanted and Desired, o juiz americano a quem cair este caso não terá outro remédio senão recorrer ao que a acusação fez há 30 anos: ver os filmes e procurar aí provas inabaláveis de culpa. Eis o que ele vai ver (e como):



FACA NA ÁGUA (1962)
Polanski gosta de facas. E de as meter na água (perversão!). Cobiça a mulher do próximo (e casada!) E usa uma linguagem estranha, que um americano médio não entende e que pode confundi-lo (um código secreto para uma invasão?) Veredicto: culpado! (N.º de adolescentes violadas no filme: zero)



REPULSA / REPULSION (1964)
Uma senhorita loira que anda semi-nua, de faca na mão, num apartamento com janelas abertas... (não esquecer de lembrar a Miss ... para não andar tão... à vontade com as janelas abertas... e para não usar o meu cartão de crédito, não vá a Mrs. ... descobrir) Sons de um "orgasmo", ruídos estranhos, um coelho podre, nem uma cena com a Doris Day... Culpado! (N.º de adolescentes violadas no filme: zero... hmm)



O BECO / CUL DE SAC (1966)
Um homem careca vestido de mulher... pela própria mulher! História esquisita, sem números musicais, a preto-e-branco (de novo!), com música jazz e ambiente "beatnik"... Disseram-me que era baseado nas obras dum tal de Beckett, irlandês, mas pensei que fosse uma boa comédia com a Maureen O'Hara e o John Wayne! Bons tempos os da cadeira eléctrica! Culpado! (N.º de adolescentes violadas no filme: zero... deixa-me contar de novo... não, é mesmo zero)



A SEMENTE DO DIABO / ROSEMARY'S BABY (1968)
O conselheiro espiritual da congregação libertou-me do pecado para que pudesse ver o filme, mas nem o consegui ver todo... A Sra. Mia Farrow a servir de concubina do Demo, quando era a esposa do Sr. Sinatra! Sacrilégio! T'arrenego, com toda a força investida em mim pela irmandade Mórmon! (nota: propor ao Governador a reinstauração dos Autos-da-Fé na Califórnia até ao final do ano). Culpado! (N.º de adolescentes violadas no filme... ao menos uma haverá, não?!: não acredito, ZERO!)

(Continua)

domingo, 27 de setembro de 2009

Cuckoo clocks

A Suíça, que baseou a sua riqueza em grande parte na apropriação das contas bancárias das famílias judias endinheiradas deportadas para os campos da morte pelos Nazis (e das contas criadas pelos próprios carrascos com esses fundos "alienados"), e tem feito fortuna continuada com o negócio do sigilo bancário, que permite douradas reformas a ditadores e extorsionários de farda por esse mundo fora, achou por bem assistir o sistema judiciário dos EUA, prendendo o realizador septuagenário Roman Polanski com base em acusações com 30 anos.

A "lógica" por detrás dessas acusações foi entretanto desmontada e explicada num documentário chamado Polanski: Wanted and Desired de Marina Zenovitch, que mostra como um juiz ultra-conservador (apesar de manter uma relação secreta com duas mulheres de 20 anos) e auto-proclamado "caçador de celebridades" quis fazer do "caso Polanski" o seu trampolim para a fama. O mesmo sistema judiciário que montou o espectáculo dos julgamentos de O.J. Simpson e Michael Jackson quer agora certamente "emendar-se" e provar que consegue pôr celebridades na cadeia.

Um indício de como, mais de 30 anos depois, a mentalidade puritana norte-americana (e canadiana, no caso) e tudo aquilo que Polanski supostamente representa para ela (a sofisticação europeia e o exotismo de um "artista maldito") não combinam está neste texto do site do Calgary Herald, a propósito da reedição em DVD de What? de 1972:

In October, a video of a little-seen 1972 Polanski film, called What?, is to be released. It's a comedy about an American girl locked in a Mediterranean villa and features scenes of gang rape and sodomy. Polanski himself is in the film. How could he not be?

Quem viu e conhece What?, produzido pelo maior produtor de Itália de então, Carlo Ponti, e que tinha como estrela Marcelo Mastroianni (e música de Schubert, A Donzela e a Morte), sabe que não há qualquer cena de violação ou sodomia no filme, uma das obras-primas da comédia absurda e melancólica, um género em que Polanski fez outro grande filme, Cul-de-Sac de 1966. Convém que alguém diga isto ao juiz que assumir o caso. As simplificações e deturpações só ficam mesmo bem quando um Harry Lime, pela boca de Orson Welles, as profere.
(PM)

Uma pergunta... antes do voto

Dentre os vários programas que vão mais logo a votos, poder-se-á extrair um parágrafo, uma linha, uma palavra que seja sobre a política e a estratégia de defesa do livro (não da ideia abstracta de livro, mas do produto da actividade editorial), da leitura e da Língua Portuguesa para os próximos tempos?

Para ler... antes do voto

"O Secretário de um Partido Político perguntou a um Distinto Cavalheiro, ocupado com os seus negócios:
– Quanto é que o senhor estaria disposto a pagar para conseguir um emprego público?
– Nada – respondeu o Distinto Cavalheiro.
– Mas o senhor daria, sem dúvida, uma determinada importância para alimentar o cofre donde extrairíamos os fundos para a sua campanha eleitoral – insistiu o Secretário do Partido Político, piscando o olho.
– Oh, não – replicou o Distinto Cavalheiro, num tom grave. – Se os meus concidadãos desejarem que eu trabalhe para eles, devem-me convidar para isso, sem que eu me proponha. Cá por mim, sinto-me muito satisfeito por não exercer funções públicas.
– Mas uma eleição é uma coisa muito desejável. Não há maior honra do que a de servir o povo.
– Se o servir constitui uma honra, seria indecente da minha parte procurar fazê-lo; por outro lado, se o obtivesse graças aos meus esforços, a coisa deixaria de constituir uma honra.
– O senhor estará, pelo menos, disposto, espero eu, a dar a sua adesão ao programa do Partido?
– Parece-me muito possível que os seus autores tenham exprimido as minhas opiniões sem me consultarem; e se eu desse a minha adesão à sua obra, sem a aprovar, não passaria de um mentiroso.
– O que o senhor é, é um detestável hipócrita e um rematado imbecil! – gritou o Secretário do Partido Político.
– Pois apesar da boa opinião que parece ter sobre a minha capacidade para exercer essas tais funções públicas, nada há que me consiga convencer –rematou o Distinto Cavalheiro."

Ambrose Bierce, "O Secretário do Partido Político e o Distinto Cavalheiro", in Fábulas Fantásticas, Estampa, 1971 (tradução de J. Fonseca Amaral)

sábado, 26 de setembro de 2009

Por falar em Bolaño...

No meio desta barragem de fogo acerca de 2666 (que me parece ser uma obra de facto intrigante, e que espero ler na cópia da edição espanhola mais barata que conseguir agarrar), ninguém se lembrou de mencionar a primeiríssima vez (assim me parece) em que o nome do escritor foi publicado em Portugal. Alguém se lembra? Eu dou uma ajuda: foi em 2002, na edição da ASA de Os Soldados de Salamina, um excelente romance de Javier Cercas que li em 2003 (com tradução de Helena Pitta). Bolaño era uma das personagens que o autor/pesquisador encontrava na senda do misterioso falangista Sanchez Mazas, e tão bem descrita era que pensei ser uma invenção de Cercas. Era já o Bolaño perto da morte e muito longe de se imaginar no centro destas movidas editoriais da moda. (Já a Blanca Riestra, a autora de O Sonho de Borges, andava pelo Novo México a ler excertos da sua obra antes de 2007, quando nos falou dele e deste 2666). (PM)

Para o dia de reflexão


De preferência, nesta mesmíssima edição da Estampa de 1971 (da célebre colecção “Livro B”), com os desenhos de Batarda Fernandes em perfeita sintonia com o texto de Ambrose Bierce e a tradução limpa de Fonseca Amaral (apesar de suspeitamente feita a partir de um original intitulado Fables Fantastiques, i.e. da edição francesa, e não do Fantastic Fables de 1899, sinal da francomania reinante então por cá). Aviso aos utopistas, optimistas e outros “cândidos”: correm o risco de ficarem a lê-lo e relê-lo amanhã e esquecerem o voto (e a sua necessidade…).

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Borges por nós

E eis como vimos – e pusemos em duas capas – o rosto de Borges (ele que nos desculpe, pois foi com a melhor das intenções...): Borges, o Mago (assumindo a "máscara" de Rhys Hughes) e Borges, o Golem de Praga.

Borges por Borges


Retrato de memória após a chegada da cegueira? Ou mapa detalhado do Jardim dos Caminhos que se Bifurcam? (via Revista Ñ)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A literatura fantástica

"Quando se menciona a expressão 'literatura fantástica' várias reacções surgem de imediato. Para uns ela significa um género literário menor, marginal, uma literatura de mera fruição que se lê, despreocupadamente, durante as férias, ou ainda algo que é próprio para crianças ou jovens. Outros, quando confrontados com obras fantásticas de autores consagrados da chamada mainstream literature, isto é, da principal corrente literária aceite pelo público e por críticos como sendo 'a grande literatura', consideram-nas meros devaneios do 'génio', episódios sem significado de maior, ou resultados de uma moda, efémera como todas. Há, também, os que lêem quase exclusivamente obras fantásticas, enaltecendo as suas qualidades com o mesmo vigor com que outros as desprezam. Referindo ainda casos extremos de aceitação e de recusa da qualidade literária de obras pertencentes ao género fantástico, lembro aqueles que, extrapolando para além de limites admissíveis, defendem que toda a literatura é fantástica. Outros, colocando-se no extremo oposto, afirmam que tal género literário não existe, porque o fantástico não é sequer uma categoria do pensamento .
Estas posições antagónicas, ditadas muitas vezes pela emoção, estão na origem de certas afirmações pseudocientíficas claramente levianas produzidas em relação a este género literário. Para alguns críticos esta forma de expressão artística pertence à literatura popular, marginal à mainstream literature, tradicionalmente definida como mimético realista. Por isso, o fantástico é frequentemente considerado indigno de um estudo profundo, crítico e rigoroso. Rosemary Jackson, na obra Fantasy: The Literature of Subversion, refere-se a este comportamento da crítica literária e afirma que 'ao longo da sua história o fantástico tem sido ignorado e fechado à chave, enterrado como algo inadmissível e vergonhoso. [...] sistematicamente rejeitado pelos críticos como tratando-se de uma cedência à loucura, à irracionalidade ou ao narcisismo, [o fantástico] tem sido contraposto às práticas mais humanas e civilizadas da literatura realista.'"

Excerto de A Problemática do Espaço em "O Senhor dos Anéis" de Maria do Rosário Monteiro (o próximo livro que publicaremos, este Outono).

A criação de mundos fantásticos segundo Tolkien



"Tolkien foi um dos autores que mais pormenorizadamente dissertou sobre a problemática da criação de mundos fantásticos. No artigo 'On Fairy-Stories' afirma a necessidade de o mundo ficcional possuir leis que lhe dêem uma certa ordem e consistência: '[O escritor] cria um Mundo Secundário no qual a nossa mente pode penetrar. Dentro dele, o que [o escritor] narra é «verdadeiro»: está de acordo com as leis desse mundo. Por isso [o leitor] acredita enquanto permanece, por assim dizer, dentro desse mundo. No momento em que a descrença surge, o feitiço quebra-se; a magia, ou antes a arte, falhou. Então [o leitor] está de novo no Mundo Primário, observando, do exterior, o pequeno e abortado Mundo Secundário'. É a arte do escritor que confere ao mundo fantástico a consistência e a verosimilhança necessárias para que o leitor se possa integrar nesse mundo, pelo menos durante o tempo que dura a leitura: 'Criar um Mundo Secundário no qual o sol verde seja credível [...] requererá, provavelmente, trabalho e concentração intelectual, bem como exigirá uma capacidade específica, uma espécie de arte élfica. Poucos são os que tentam tais empreendimentos. Mas quando o fazem com êxito, estamos perante uma proeza rara da Arte, da arte narrativa na sua primeira e mais potente forma'. Para que o mundo fantástico possua consistência e verosimilhança o autor tem de recriar os elementos do mundo real, dando-lhe novas propriedades, novas formas, eventualmente novos nomes. As raízes do mundo fantástico têm de estar inevitavelmente mergulhadas no mundo real."

Excerto de A Problemática do Espaço em "O Senhor dos Anéis" de Maria do Rosário Monteiro (o próximo livro que publicaremos, este Outono). Ilustração: The Lonely Mountain por Tolkien.

sábado, 12 de setembro de 2009

Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta

Duro e conciso, como sempre, mas preciso o post de João Gonçalves sobre a "trasladação" dos ossos de Jorge de Sena, esse tipo de espectáculos lúgubres que os Estados gostam de se oferecer e oferecer à memória de quem trataram mal ou, no caso, de quem escolheu sair de cá para poder ser em plenitude o brilhante pensador e homem de letras que esta "pátria amada" nunca quis ter. No fundo, para não acabar como o objecto dos seus estudos mais dedicados, Camões. Num país de um milhão de analfabetos, trazer ossos de escritores serve de quê? [PM]

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Representação no Brasil

Somos representados no Brasil pela Sequência – Representação Editorial, sedeada em Florianópolis, que irá promover e fazer chegar junto dos livreiros (e demais interessados) nesse território oito títulos do nosso catálogo.

sábado, 29 de agosto de 2009

O número que ninguém ousa pronunciar

Juramos que não foi por superstição ou, no limite, por receio de cair num dos "buracos negros" de Covadlo e atrair uma qualquer das suas personagens amaldiçoadas, mas o certo é que ALGO nos impediu de notar que BURACOS NEGROS se compõe de 13 e não 12 contos. Foi preciso a crítica entusiástica de José Riço Direitinho na LER de Setembro (pp. 71-72) para nos apercebermos desse erro, que será corrigido em todas as matrizes "abertas" (site e press-releases em PDF). Seremos já personagens de um 14.º "buraco negro", condenados a trocar os números dos contos publicados em cada novo livro? Hmm...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ann leva Hugo para casa

Nada de mal-entendidos: trata-se apenas de anunciar que Ann VanderMeer ganhou o Hugo Award 2009 na categoria de "Best Semiprozine" (juntamente com Stephen H. Segal), pela edição da nova encarnação da Weird Tales, um título com longos e remotos pergaminhos na história da literatura fantástica e da pulp fiction norte-americanas. Ann é casada com Jeff VanderMeer, e conhecemos ambos em 2006 quando Jeff veio a Lisboa apresentar a nossa edição de A Transformação de Martin Lake (já esgotada há muito). Se mais não fosse, a Ann merecia o prémio pela simpatia, pelo que aqui enviamos os nossos parabéns.

sábado, 15 de agosto de 2009

Swansea por Rhys Hughes

"I wanted a Lovecraftian background but couldn't find one in Swansea. In Swansea, it's the foreground that's Lovecraftian..."

BURACOS NEGROS:
cultivar insónias

"Um livro para quem padece de insónias e que não quer mesmo deixar de as cultivar com denodo". Palavras sobre BURACOS NEGROS de Lázaro Covadlo, em texto de José Guardado Moreira no Expresso de 08.08 (suplemento Actual, p. 29).

domingo, 2 de agosto de 2009

Cinco estrelas



Filipa Leal, na última edição da Os Meus Livros (Agosto), atribui 5 estrelas à edição de O Doido e a Morte de Raul Brandão que preparámos para a Companhia de Teatro de Almada (CTA). O livro pode ser comprado na coluna lateral deste blogue (PVP: 7.00 Euros).

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Modelos

O blogue venezuelano Sobre Edición, através do seu editor Leroy Gutiérrez, acaba de apresentar 3 montagens promocionais nossas (se quiserem, "booktrailers") como modelos a seguir por outras editoras. Neste post, as montagens para O Pássaro Pintado, Criaturas da Noite e O Sonho de Borges são exemplos do que o autor considera serem os 4 mandamentos elementares, e citamos:

"1. Elocuente. Las imágenes deben remitir al libro.
2. Estimulante
. El lector debe querer ir al libro para descifrar el sentido de las imágenes, las palabras o los sonidos que percibe.
3. Breve
. El book trailer es apenas un atisbo del libro, casi como si se pudiera hojearlo en la librería. Así que no puede durar tantto tiempo como para aburrir.
4. Preciso
. Como sucede con los avisos publicitarios, si después de haber visto el book trailer no le queda claro al lector el título del libro y el nombre del autor se ha perdido todo el trabajo."

Aqui ficam os devidos (e corados) agradecimentos. (Ao Manuel Bragado do Bretemas também, pela referência).

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Um SOS entre muitos

As coisas estão mesmo assim: é tempo de SOS. No caso, é a Salt, uma pequena editora inglesa de poesia, com uma imagem impecável (e amigos influentes...), que pede ajuda da única forma em que uma pequena editora pode ter ajuda: comprem, por favor, "um livro apenas" (directamente e no seu site, claro). Começa a tocar-nos a todos, mesmo aos que parecem ter boas unhas para se agarrarem...

Um autor para todas as épocas

Alguém devia dizer ao Ali G para tentar a sorte por cá...

sábado, 25 de julho de 2009

Editar em recessão: entrevistas

Para ler aqui, uma série de entrevistas a editores de pequenas casas independentes (small presses) americanas sobre as suas experiências em tempos de recessão, incluindo Declan Spring, senior editor da mãe de todas as editoras (ainda) independentes americanas, a New Directions.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Covadlo antes de Covadlo



Antes da chegada das respostas de Lázaro Covadlo às nossas perguntas sobre BURACOS NEGROS, eis o autor falando sobre o seu último romance, Las Salvajes Muchachas del Partido.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

BURACOS NEGROS :
montagem promocional





Estamos um bocado fartos disto dos "trailers" (com o prefixo "book" ou sem ele). Eis, portanto, a "montagem promocional" para BURACOS NEGROS de Lázaro Covadlo, da mesma casa que tem produzido "montagens promocionais" desde Novembro de 2005. (Para verem a versão Flash em formato SWF, com melhor qualidade de imagem, desloquem-se à página do livro no nosso site). Com sons de John Cage e John Cale.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Vacaciones de Jordi Codina Font

Eis Vacaciones, a adaptação de "Quando a Tarde Cai", um dos contos de BURACOS NEGROS de Lázaro Covadlo. Curta-metragem de 2007 de Jordi Codina Font. Agradecemos ao realizador e ao autor a autorização para a divulgação deste filme.



quinta-feira, 16 de julho de 2009

Vacaciones: buracos negros sob
o sol inclemente

Antes da sua colocação no Youtube, eis alguns frames de Vacaciones, uma curta-metragem de 2007 de Jordi Codina Font, adaptando o conto "Quando a Tarde Cai" de Lázaro Covadlo, incluído em BURACOS NEGROS. Agradecemos ao realizador e ao autor a autorização para a divulgação deste filme.





segunda-feira, 6 de julho de 2009

Férias com Feltrinelli e Girodias: uma sugestão


Descobri que livros sobre editores (note-se: não sobre edição), memórias ou biografias ou monografias sobre casas editoriais, são viciantes. Por mais monótona e padronizada que possa parecer a actividade vista de fora, há sempre surpresas escondidas nestas páginas, e raramente derivam do que se possa esperar, ou seja, do brilhantismo e excentricidade dos "autores": são os próprios biografados que surgem, mesmo sem grande esforço dos biógrafos, e apenas pela força dos factos, como figuras extraordinárias.
É o caso destas duas sugestões de leitura, dois livros que comprei ao desbarato no ebay (fora os portes, o conjunto ficou por 2 USD, ou seja, perto de 1.40 EUR) e que são uma porta inesperada para duas histórias de edição que desconhecia em detalhe (Girodias) e na totalidade (Feltrinelli).

Que a história da Olympia Press de Maurice Girodias era curiosa, já o sabia: foi, afinal de contas, o único editor com coragem suficiente para avançar com a primeira publicação de Lolita de Vladimir Nabokov em 1955. Acontece que este The Good Ship Venus de John St. Jorre (sim, o nome do autor é mesmo este; não se trata de um dos famosos noms de plume do catálogo da Olympia), publicado pela Pimlico, revela uma das mais incríveis odisseias na história da edição, a de uma casa sediada em Paris que publicava em inglês (na senda da Obelisk do seu pai, Jack Kahane, e da Shakespeare & Company de Sylvia Beach), que, para a maioria, não passava da editora de dirty books mais famosa ou infame (o termo parece ter sido inventado e usado com gosto pelo próprio Girodias, talvez antecipando o seu uso pelos juízes), mas que, à custa do dinheiro ganho com esse nicho, publicou, além de Lolita, os romances de Samuel Beckett, Naked Lunch de William Burroughs, The Ginger Man de J.P. Donleavy, Candy de Terry Southern, e a 1.ª edição em inglês da Story of O de Pauline Reage (e se querem saber quem foi ela realmente, este é o livro certo), para não falar de obras de Henry Miller e Lawrence Durrell. Os capítulos sobre a publicação de Lolita, Naked Luch e Ginger Man valem o peso em ouro (e Nabokov não sai muito bem na fotografia final). St. Jorre está visivelmente fascinado pelo seu "herói" mas isto não é uma hagiografia: recorrendo a uma documentação extensa, cria uma polifonia de vozes antagónicas que dá uma imagem ricamente texturada de um editor relutante no pagamento de royalties e traduções, que passou metade da vida em tribunal (e que, notoriamente, retirava algum prazer disso), e que perdeu a sua editora precisamente num tribunal (os detalhes só lidos mesmo: contados não se acredita...). Quanto aos dirty books propriamente ditos, publicados na série Traveller's Companion de discreta capa verde? Nos seus autores (sob pseudónimo) havia nomes depois famosos como Alexander Trocchi ou Norman Rubington, mas havia também turistas americanas em dificuldade financeira, homens de negócios ingleses, jovens escritores desconhecidos em busca de sustento e até uma jovem paquistanesa cosmopolita, descrita por Girodias assim:

"She always wore flowing silk saris, her hair, thick and braided, had never been cut or coiffed, she was modest, beautiful, patient, polite and draped in veils as she handed us the not-so-innocent product of her cultivated mind. She was, in every way, what my father and I had dreamed a pornographer should be." (p. 58)

Se a história de Girodias é a de um dandy libertino e culto, que prosperou enquanto as leis censórias não foram abolidas em Inglaterra e nos EUA, e que sabia reconhecer e lutar por um bom livro quando o encontrava, a história de Giangiacomo Feltrinelli (Harcourt) é, apesar de explicável pelas contingências culturais da sua época (os anos de 1960 e o pós-1968), talvez a mais radical história da edição do século XX, a de um homem que viveu para o culto e a difusão da palavra impressa e que a certo ponto achou que a palavra não chegava e se preparou para a acção (poder-se-ia traçar um paralelo com o trajecto de Mishima).
Os factos são, por si, espantosos: herdeiro de uma fortuna considerável, Feltrinelli cria a sua casa editorial nos anos de 1950 e no final da década comete a proeza do século: clandestinamente, vai à Rússia resgatar o manuscrito de Dr. Jivago (mas não o seu autor) e, por acordo com Pasternak, torna-se o detentor dos direitos mundiais deste romance. Podem fazer as contas. Anos depois, após o pico da Crise dos Mísseis, está em Havana para assegurar os direitos das memórias de Fidel Castro, o que lhe garante, em 1967, acesso ao inner circle dos rebeldes na selva boliviana (Feltrinelli chega a estar preso em La Paz) , e os direitos mundiais (assegurados pessoalmente por Castro) do Diário de Che Guevara. Podem de novo fazer as contas. Milionário, cada vez mais bem sucedido como editor, ele volta da sua última estada em Cuba um homem diferente: já não é o editor, porque descobre que os livros não terão nunca a força das armas. Com uma amante a quem conta pouca coisa, faz um périplo secreto por África e procura aliados, e, em Itália, radicaliza gradualmente a sua posição política (chega a planear a sublevação da Sardenha, "uma Cuba mediterrânica"). Entra na clandestinidade e desaparece. A 14 de Março de 1972 é encontrado morto junto a um engenho explosivo que teria tentado colocar num posto de transformação eléctrica perto de Milão: os "anos de chumbo" tinham chegado.
Escrito pelo filho Carlo, poderíamos mais uma vez pensar estarmos perante um relato hiperemotivo e factual e analiticamente débil. Erro: Carlo é de uma candura e uma frieza extrema, referindo-se ao seu pai sem o uso do possessivo e procurando dá-lo a conhecer através de documentos escritos e depoimentos de terceiros (os episódios cubanos e latino-americanos são, como é óbvio, absolutamente preciosos, criando uma imagem vívida dos anos cruciais do século XX).

Dois livros sobre um certo tipo de editores cujo molde se perdeu há muito, e que são um refrescante antídoto da actual obsessão com a edição "profissionalizada" e gerida em holdings por "CEOs".
(PM)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Pack Rhys Hughes a 23 Euros


Na compra deste pack (composto de um exemplar de UMA NOVA HISTÓRIA UNIVERSAL DA INFÂMIA e outro de A SEREIA DE CURITIBA de Rhys Hughes) paga apenas 23 Euros, ou seja, poupa 9 Euros numa compra dos 2 livros ao PVP sem desconto. Consulte a página Loja do nosso site (ou directamente a página de Encomendas). Promoção válida APENAS EM COMPRAS NO NOSSO SITE.

Descontos de 50%...
apenas com PayPal



Com a chegada de Julho, abrimos uma promoção "volante": alternaremos um desconto de 50% sobre todos os títulos com mais de 1 ano (a promoção estará devidamente identificada com o gráfico que podem ver sobre a capa). Esse desconto durará apenas alguns dias até passar para outro título e assim sucessivamente. Apenas quem possua uma conta PayPal... ou quem queira criar uma seguindo os passos indicados antes pode beneficiar deste desconto. Começamos com A SEREIA DE CURITIBA de Rhys Hughes, que pode portanto ser comprado a 8.50 € nos próximos dias.

domingo, 7 de junho de 2009

Como usar (e pagar com) o PayPal no nosso site (e no blogue)

PEQUENA INTRODUÇÃO

A cíclica exposição a notícias sobre "fraudes" na internet tem o perverso condão de transformar a maioria dos potenciais compradores portugueses (já muito aversos a confiar ou a usar a net como meio de compra de produtos e serviços) em paranóicos guardadores-de-dinheiro-debaixo-do-colchão, para quem o momento de "clicar" em qualquer gráfico que diga Pay ou Comprar é a porta para uma câmara escura de imprevisíveis punições. Se essa mentalidade fosse universal (as "fraudes" pela net são-no, afinal de contas), empresas como a eBay ou a Amazon estariam falidas há muito. Acontece que não só não estão, como prosperam e crescem de forma quase geométrica. Ou seja: a confiança que subjaz ao acto de comprar pela net, um acto solitário em que o comprador não "vê" o vendedor nem "toca" o produto, é o motor da nova economia digital, e um dos mais poderosos travões à recessão do consumo (quer a económica, quer a psicológica, que se alimentam mutuamente).
Está por fazer ainda a estatística rigorosa sobre os hábitos de consumo digital dos portugueses, mas creio que o consenso generalizado é de que existe um défice de confiança nas ou conhecimento das ferramentas e serviços que sustentam a economia digital.

Dois exemplos práticos, comparando Portugal e o Brasil:
1) Portugal – Agravando o facto de as compras através de meios de pagamento totalmente digitais (como o PayPal, a base do sucesso do eBay) serem quase nulas, não tanto pela falta de confiança como pelo simples e completo desconhecimento, a obsessão pelo pagamento por reembolso ou por transferência bancária ainda vem acompanhada, por vezes, de perguntas como "se vos fizer a transferência, como vão saber que fui eu?" (além de comprador, sou vendedor no eBay há 3 anos, e posso dizer que se contam pelos dedos de uma mão mutilada os compradores portugueses no ebay, e das 2 vendas que fiz para Portugal, uma foi paga por acordo através de... transferência bancária);
2) Brasil – Há uns tempos, trabalhando na criação de um site para uma empresa, sugeri a inclusão do meio de pagamento do PayPal, que é totalmente gratuito e facílimo de integrar, com um conhecimento básico de HTML, tanto num site como num blogue. Poucos dias depois, houve um contacto de uma potencial compradora do Brasil que achava que as taxas cobradas pelos bancos e os Correios são elevadas mas que não conhecia o PayPal nem sabia como funciona. Foi enviado um email de resposta com os passos elementares para a criação de uma conta e pagamento, mas a sensação era de que a compra estava perdida. Errado: menos de 10 minutos depois, era feito um pagamento cujo remetente correspondia ao email da senhora/menina que 10 minutos antes não sabia sequer como funcionava o PayPal. Isto repetiu-se com compradores do Brasil outras 3 vezes, pelo menos, num curto espaço de tempo (fora as vezes de que não tive conhecimento): da total ignorância para uma compra segura em menos de 10 minutos. Pagamentos por PayPal de portugueses em Portugal? Zero.

Ora, na nossa modesta situação de produtores de bem culturais à venda na internet, temos a obrigação de combater essa ansiedade com informação, até porque a sobrevivência de empresas como a nossa passa pela economia digital, e esta apenas progride com base na compra online e na confiança que subjaz a esta. Há perto de 2 anos, a McSweeney's esteve para falir, arrastada pela falência da sua distribuidora; uma mega promoção na sua loja virtual, com packs do seus diversos livros, revistas e outros produtos, salvou a editora. Um exemplo concreto de que as compras directas aos produtores (neste caso de livros) beneficiam quem os produz (e o próprio comprador, pela redução dos custos com a distribuição que favorece a descida do PVP).
(PM)

COMO CRIAR UMA CONTA PAYPAL

1. No site da PayPal, clicar no link Sign Up.
2. Aqui, escolher o país, a língua de preferência e o tipo de conta a criar (PESSOAL, no caso), clicando em Abrir uma conta.



3. Preencher os dados pessoais básicos (email, password, nome, morada, país, telefone) e submetê-los. De especial importância é o email, pois passará a ser a sua "chave" para usar (pagar e/ou receber) o PayPal: trata-se do único dado que o receptor dos seus pagamentos irá conhecer (para além do seu endereço, para onde os bens adquiridos serão enviados). Tanto o seu número de conta como (se for o caso) o seu cartão de crédito serão do conhecimento apenas do PayPal.
4. Após a introdução desses dados e seu envio, a página seguinte permite escolher entre 2 modos de pagamento. Quem tiver cartão de crédito deverá escolher essa modalidade (a mais usada: se não tem um cartão de crédito, pode usar um método de cartão de crédito virtual como o MBnet). Quem não tiver cartão de crédito, pode agora escolher a modalidade de transferência da sua conta bancária para "carregar" a conta Paypal.



5. No caso de opção pela modalidade da conta PayPal, esta será mantida através de transferências a partir da sua conta bancária pessoal. O processo passa por uma conta no BES pertencente ao Paypal, cujos dados estão em baixo, e da qual o PayPal passará o dinheiro para a conta PayPal do utilizador (esta opção é recente, pois até ao ano passado o cartão de crédito era obrigatório).



6. Esteja atento à sua caixa de email (do email que deu na introdução dos seus dados), pois o PayPal contactá-lo-á após a criação da conta.
7. No primeiro acesso à sua conta, terá de a Verificar (torná-la reconhecida para pagamentos) através de um pagamento simbólico ao PayPal de 1,50 USD, que lhe será restituído posteriormente.
8. Todos os dados introduzidos neste processo são confidenciais e apenas do conhecimento do PayPal, e o site é seguro: não há sequer a possibilidade de guardar a password no seu browser. Não há qualquer obrigação de compra depois da criação da sua conta nem qualquer pagamento a fazer ao PayPal com excepção do pagamento simbólico referido em 7. Aconselhamos o uso da Ajuda do próprio PayPal.

COMO PAGAR COM PAYPAL NO NOSSO SITE

1. Junto a cada título, quer na página inicial, quer na de Livros, quer nas páginas de cada livro, encontra um pequeno gráfico (devidamente identificado com o logo do PayPal) em baixo do PVP (também o encontra aqui no blogue, na coluna da esquerda):



2. Ao clicar nesse gráfico está a adicionar 1 exemplar desse livro ao seu "carrinho de compras" virtual, onde tem listadas as suas compras por título, quantidade e valor (em Euros). Uma vez aí, pode decidir continuar a comprar (clicando no botão respectivo e voltando ao site) ou proceder imediatamente à sua compra clicando no botão de fundo amarelo.



3. Isso fará com que entre na sua conta PayPal.



4. Aqui, o valor total e final da sua encomenda ser-lhe-á indicado e terá apenas de a confirmar ao clicar em Pagar agora.



5. Se decidir fazer uma encomenda de mais de 1 título ou de vários exemplares de 1 título (Deus lhe pague e guarde por muitos e bons e lhe dê saudinha), pode ir controlando o estado do seu carrinho clicando no gráfico à esquerda do logo PayPal nas páginas individuais dos livros, e que se encontra também na página inicial, na página geral de Livros, na da Loja e na das Encomendas.



6. Se ainda assim se sentir inseguro/a quanto ao pagamento directo por PayPal, ou precisar de alguma informação nossa, sugerimos que preencha os seus dados na nossa página de Encomendas e marque PayPal como modo de pagamento. Entraremos em contacto consigo.


sexta-feira, 5 de junho de 2009

Novidade: BURACOS NEGROS de Lázaro Covadlo


Em poucos dias, estará já no mercado BURACOS NEGROS de Lázaro Covadlo, o autor de CRIATURAS DA NOITE que publicámos já em 2007.
Fica também o aviso de que a PROMOÇÃO "Buracos Negros" chega ao seu termo no próximo Domingo dia 7. A quem se habilitou, as nossas garantias de que receberão o vosso exemplar gratuito já na próxima semana; a quem ainda quer habilitar-se: despachem-se, pois já não há muito mais tempo... nem livros (a promoção está limitada a 12 exemplares).

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Bruce Holland Rogers em Epinal



Antes de passar por Lisboa, Bruce Holland Rogers tinha estado em Epinal, no festival Imaginales. Eis uma entrevista feita na altura.

Cosmologia corporativa



Em 1976, Paddy Chayefsky (pela voz de Ned Beatty) deu esta lição sobre a "cosmologia corporativa". Quem quiser perceber como funciona a indústria dos media, incluindo (cada vez mais) a edição de livros, só tem de abrir bem os ouvidos. Oito minutos que explicam onde e como estamos há mais de 30 anos. (O filme, de Sidney Lumet, chama-se Network e podia ter sido feito ontem).