Na sessão de dia 27 de "Com Todas as Letras", a série de debates que têm vindo a ser organizados pela Os Meus Livros e pela SPA, o editor Pedro Reisinho esteve, teremos de referi-lo, em clara desvantagem à partida. Na mesa com Luís Corte-Real (editor da Saída de Emergência) à sua esquerda e com David Soares e João Seixas à sua direita (respectivamente, autor e colaborador pontual da Saída de Emergência), o editor da Gailivro podia queixar-se de um alinhamento em seu desfavor neste debate sobre a edição de ficção científica, horror e fantástico. A seu favor, como todos o sabemos, os números dos tops e das vendas astronómicas.
Se bem que tenham aberto o debate em concordância, com uma leitura trágica das possibilidades de sucesso financeiro da edição de FC em Portugal (Reisinho terá mesmo confessado que a publicação de autores portugueses do género, como Telmo Marçal ou João Barreiros, é feita já com a expectativa de fraquíssimas vendas, quase uma edição de "caridade"), confessando ainda ambos que a FC que publicam é paga com as receitas das vendas de títulos de géneros bem mais rentáveis, a divergência entre os dois editores começou a tornar-se evidente. Mais directo e realista, Corte-Real via-se secundado pelas boas prestações de Soares e Seixas (que chegou a trazer uma pequena estatística que provava o real declínio da edição de FC por cá) na fixação de um panorama da publicação e da recepção nacionais aos géneros em causa. A desvantagem do alinhamento pesou então sobre Reisinho, que, acompanhado apenas de 2 exemplares de livros seus e recentemente lançados (um livro de contos de Telmo Marçal e um romance de Octávio dos Santos), se limitou à possível defesa do seu catálogo, mesmo quando a qualidade das obras de Stephanie Meyer, por exemplo, foi dura e repetidamente atacada tanto por David Soares como por João Seixas.
Por intermédio de uma pergunta vinda de um aluno de Belas-Artes na assistência (que foi compondo o auditório até quase o encher, uma boa surpresa para os pessimistas), a conversa orientou-se para a qualidade das capas e do grafismo na FC em Portugal, e aí uma certa impreparação de Reisinho foi subitamente notória: interrogado por mim quanto ao facto de a Gailivro ter colocado na capa do livro de Marçal uma imagem da série A Quinta Dimensão sem qualquer creditação ou menção da fonte da imagem (algo que eu descobrira e apontara aqui), o editor, além de confessar não saber que a imagem era da série, não se lembrava sequer de que essa menção não estava assinalada no livro. O meu argumento era (e é) que a "nobilitação" de um género passa também pela assunção de uma genealogia iconográfica e pela sua devida (e até orgulhosa) menção nos livros publicados. Apesar destas fraquezas na preparação para o debate, e de um alinhamento claramente desfavorável, creio, contudo, que Pedro Reisinho se defendeu de forma desportiva e, quando foi imperativo, sensata, ao reconhecer (perante a insistência de João Morales, o moderador) que a creditação na ficha técnica teria sido aconselhável no caso do livro de Marçal.
Em suma, um debate muito vivo, directo, alargado (poucas vezes me lembro de ouvir, neste tipo de evento übber-literários, uma tão boa discussão sobre o design editorial, no caso da FC), com boas intervenções do público (Ricardo Loureiro e António de Macedo, por exemplo). Talvez o pessimismo inicial dos dois editores na mesa, os líderes na publicação destes géneros em Portugal, possa ser revertido.
(PM)
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Panorama pálido, debate animado
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