"O Secretário de um Partido Político perguntou a um Distinto Cavalheiro, ocupado com os seus negócios:
– Quanto é que o senhor estaria disposto a pagar para conseguir um emprego público?
– Nada – respondeu o Distinto Cavalheiro.
– Mas o senhor daria, sem dúvida, uma determinada importância para alimentar o cofre donde extrairíamos os fundos para a sua campanha eleitoral – insistiu o Secretário do Partido Político, piscando o olho.
– Oh, não – replicou o Distinto Cavalheiro, num tom grave. – Se os meus concidadãos desejarem que eu trabalhe para eles, devem-me convidar para isso, sem que eu me proponha. Cá por mim, sinto-me muito satisfeito por não exercer funções públicas.
– Mas uma eleição é uma coisa muito desejável. Não há maior honra do que a de servir o povo.
– Se o servir constitui uma honra, seria indecente da minha parte procurar fazê-lo; por outro lado, se o obtivesse graças aos meus esforços, a coisa deixaria de constituir uma honra.
– O senhor estará, pelo menos, disposto, espero eu, a dar a sua adesão ao programa do Partido?
– Parece-me muito possível que os seus autores tenham exprimido as minhas opiniões sem me consultarem; e se eu desse a minha adesão à sua obra, sem a aprovar, não passaria de um mentiroso.
– O que o senhor é, é um detestável hipócrita e um rematado imbecil! – gritou o Secretário do Partido Político.
– Pois apesar da boa opinião que parece ter sobre a minha capacidade para exercer essas tais funções públicas, nada há que me consiga convencer –rematou o Distinto Cavalheiro."
Ambrose Bierce, "O Secretário do Partido Político e o Distinto Cavalheiro", in Fábulas Fantásticas, Estampa, 1971 (tradução de J. Fonseca Amaral)
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