A propósito do fenómeno das vanity presses (editoras ou chancelas de editoras que publicam apenas na condição de os autores arcarem com todas as despesas da edição), que deu recentemente uma acesa polémica que pode ser seguida aqui e aqui (e sobre a qual não pretendemos alargar-nos), fica, à consideração e reflexão dos interessados, o excerto de um email vindo de um potencial "autor", que, já publicado anteriormente por uma dessas empresas, sente agora "algumas dificuldades" em publicar a sua restante produção:
"Depois disso escrevi mais seis romances, mas estou a experimentar algumas dificuldades na sua publicação devido à exigência das editoras para que sejam angariados patrocinadores que assumam uma parte das despesas. Por outro lado, também não tenho disponibilidades financeiras que me permitam arcar sózinho [sic] com esse encargo, pelo que estou actualmente em busca de uma editora que não faça depender a edição dessa exigência."
Pondo de parte questões não despiciendas como, por exemplo, a de saber quais são essas editoras (além das que já se sabe serem vanity presses) que exigem a um autor de obras de ficção que angarie patrocinadores(!), é importante que fique claro que, se há empresas de prestação de serviços editoriais que agem desta forma, tornando autores em clientes, isso se deve também à ilusão de milhares de pessoas que "gostam de escrever", "até têm jeito para escrever" ou (pior) já escreveram "uns romances", e que, em troca de 1 ou 2 exemplares impressos (pagos por elas, além do que já pagaram para serem "escolhidas") e de uma ténue esperança de 1 ou 2 semanas de exposição numa "livraria", entregam alguns milhares de euros a pessoas que consideram "editores" e, por associação, passam a considerar o acto de publicar ou ser publicado como uma mera transacção comercial e não como efeito de mérito e produto do esforço intelectual.
P. T. Barnum era empresário do circo e não cientista, mas não deixou de proferir uma das leis "oficiosas" sobre o comportamento humano mais continuamente provadas pela prática que se conhecem: there's one sucker born every minute (houve quem acrescentasse ao adágio: and two to take him), significando que os seus espectáculos (freak shows) de mulheres-barbudas e outras "maravilhas" não teriam qualquer sucesso sem o ingénuo entusiasmo de milhares de crédulos... e a hábil manipulação de sonhos por parte de "empresários" astutos.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Subscrevo inteiramente o conteúdo deste texto.
ResponderEliminarJá agora, qual é a política editorial da Livros de Areia?
Caro Pedro,
ResponderEliminarcomo muitas das expressões (ab)usadas hoje em dia, "política editorial" é uma contradição em termos. Uma editora, e pequena, deve esquecer a "política" e esperar apenas poder publicar os livros que consegue pagar, captar uma magríssima fatia de atenção de livreiros e críticos, e tentar que esses investimentos retornem (após a devida contribuição ao erário público) como possibilidade de novos livros. Se quiser, a nossa "política editorial" está arquivada na gaveta da Ética e é esta: não fazer com que os autores paguem impostos duas vezes: os seus e os de quem lhes põe os textos em papel.
Pedro Marques