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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Life is a pop of the cherry when you're a boy*

Recebemos este email há dias, e esses foram dias em que tentámos compreendê-lo. Não conseguimos. Decidimos colocar o grosso do seu conteúdo (salvaguardados a identidade do remetente e outros detalhes de ordem mais pessoal, que omitimos) para consulta aqui como medida pedagógica e como amostra do que passa por "edição" na cabeça de muito boa gente por aí (alguma dela, pelos vistos, com tanta idade quanta a que aparenta ter, e que devia ser melhor aconselhada). Aviso: pode provocar riso descontrolado, aconselha-se água com açúcar em caso de soluços.

"Boa tarde,
O meu nome é ................, tenho ..... anos [legalmente, um adolescente, mais novo do que o Justin Bieber, mais velho do que os rebentos da Britney Spears] e lidero um projecto que integra cerca de sete mil jovens entre os 12 e os 27 anos, denominado .................... . Trata-se não de um espaço físico, mas sim de uma reestruturação do conceito de Biblioteca, dirigindo-o para uma congregação de esforços e iniciativas que culminem na projecção, divulgação e aposta no talento dos jovens portugueses. Promovemos o empreendedorismo jovem e cremos num Portugal de futuro.

[Segue-se um parágrafo em que a obra literária por trás, ou pela frente, do projecto é apresentada, referindo-se um nome sonante dos media como prefaciador]

Contacto-os no sentido de propor-lhes uma parceria relativa à segunda obra da minha autoria, '....................' . O que proponho será uma parceria editorial, sendo que ao encargo da .................... ficaria a capa (já construída - segue em anexo, sendo que teria de ser alterada de forma a incluir igualmente a vossa editora), o design original e exclusivo do interior da obra (incluindo paginação) e o lançamento da mesma. À editora caberia o processo de revisão, processo tipográfico e de distribuição. A .................... requisitaria a percentagem de 15% dos lucros e a mim caber-me-iam (direitos de autor) 10%. A obra teria o formato 15x23, sem badanas, 220 páginas. [Fonte e corpo do texto, entrelinha, margens, tipo de acabamento, parecem ser da ordem da fantasia no meio deste meticuloso plano. Mas continue-se a leitura e mantenha-se o espanto...]

Tratar-se-á de uma obra com carácter inédito e exclusivo que poderá trazer muitos lucros a ambas as partes caso vise uma distribuição abrangente. Importa ainda constatar que a .................... tem programadas apresentações da obra em questão em dois principais canais televisivos nacionais (Programas: Querida Júlia, Sic; A Tarde é Sua - TVI) e em diversas estações de rádios (ex. TSF). [Ou seja: já há promoção garantida para um livro que ainda nem existe]

Contaremos ainda com um lançamento (ao encargo, repito, da .................... ) que visará diversas actuações teatrais, a participação da caracterizadora .................... , que caracterizará cerca de 10 jovens de índios brasileiros, actuações musicais, participação do mágico .................... , com magias de bolso e a grande magia de palco 'Caminhar descalso [sic] sobre uma passadeira de cacos de vidros', entre outras atracções. [E quem paga as pipocas? Certamente o editor...]

Resta-nos dizer que realizámos uma pequena sondagem [a quem: família, amigos, colegas no colégio?] que comprova o interesse das pessoas pela obra, pelo seu conteúdo e [eis o engodo] pela minha reduzida idade como autor. Abaixo encontra-se o book trailer e uma pequena sinopse da obra. Encontra-se ainda o book trailer do meu primeiro romance '.................... '.

Fico a aguardar."

E nós também, desejosos de saber se há peixe por esse tumultuoso lago capaz de morder isco tão escorregadio.
PS.: O booktrailer é igualmente antológico. Recomendamos.

* Verso da canção Boys keep swinging de David Bowie.

terça-feira, 3 de maio de 2011

E o nosso momento de comédia
de hoje é trazido por...

... Pedro Chagas Freitas, o intrépido "Mourinho" da escrita criativa, o homem que está 24 horas a escrever sem pôr vaselina na ponta dos dedos ou limpar a baba do teclado. É o Público (sim, esse mesmo, o jornal "de referência") que nos "informa" que esta luminária pretende "escrever o maior romance do mundo, contado [sic] por mil autores." Todo o texto é digno de uma tese de doutoramento e uma ala no Júlio de Matos, mas fica apenas o último parágrafo como amostra do nível de lunatismo de comungam as pessoas que avançam com estas mal mascaradas estratégias de auto-promoção comercial e as que as transformam em notícias impressas em jornais "sérios":
"'A ideia é juntar os autores todos, mais os seus convidados, familiares e amigos, num evento único. Normalmente um lançamento de um livro junta cerca de 200 a 300 pessoas, aqui o objectivo é juntar milhares', conclui."
No mundo em que este Donald Trump da edição literária vive, um lançamento de livro "normal" reúne facilmente cerca de 300 pessoas a assistir, mas conseguir chegar à "segunda página" parece ser mais difícil ("eu já escrevi o início da história e agora falta alguém que escolha a página dois"). Não há ninguém da Fundação Talento que lhe dê uma ajuda?
(PM)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Ou a escrita ou a vida

Chama-se Pedro Chagas Freitas e é a "estrela" literária que vai estar na Porto Book Stock Fair a escrever 24 horas sem parar, esperemos que com alguma vaselina na ponta dos dedos. Diz que é o Mourinho da escrita criativa, mas a prosa soa a Carlos Queiroz...

Um pérola: "Aprenda, em pouco tempo, a escrever de forma irrepreensível e criativa. Sem secas. E sem ter sequer de sair de casa." ("Escrever" e "sair de casa" são, portanto, actos correlacionados e interdependentes; a "seca", presume-se, será a obrigação de ler, coisa de somenos para quem quer, afinal e apenas, escrever.)

Outra pérola: "Um dia, disseram-me que, na vida, teria de optar entre escrever e viver. Optei, sem hesitar, por escrever. E sei, hoje, que é ao escrever, e só ao escrever, que sou capaz de viver." (Mas quem lhe impôs essa fatal opção? A Gestapo? E, pela lógica da mesma, ele não deveria estar já morto? Não estará?)

Do mesmo planeta em que "editoras" prometem publicar "todos" os manuscritos recebidos (com a devida factura enviada ao "autor"), chegam os messias da escrita "criativa" (para não confundir com a escrita que não é criativa, como a dos oficiais de contas), no caso, os "Mourinhos" do processador de texto. A sua vida pode mudar. Basta ser escritor. E criativo. E "prontos".