A Suíça, que baseou a sua riqueza em grande parte na apropriação das contas bancárias das famílias judias endinheiradas deportadas para os campos da morte pelos Nazis (e das contas criadas pelos próprios carrascos com esses fundos "alienados"), e tem feito fortuna continuada com o negócio do sigilo bancário, que permite douradas reformas a ditadores e extorsionários de farda por esse mundo fora, achou por bem assistir o sistema judiciário dos EUA, prendendo o realizador septuagenário Roman Polanski com base em acusações com 30 anos.
A "lógica" por detrás dessas acusações foi entretanto desmontada e explicada num documentário chamado Polanski: Wanted and Desired de Marina Zenovitch, que mostra como um juiz ultra-conservador (apesar de manter uma relação secreta com duas mulheres de 20 anos) e auto-proclamado "caçador de celebridades" quis fazer do "caso Polanski" o seu trampolim para a fama. O mesmo sistema judiciário que montou o espectáculo dos julgamentos de O.J. Simpson e Michael Jackson quer agora certamente "emendar-se" e provar que consegue pôr celebridades na cadeia.
Um indício de como, mais de 30 anos depois, a mentalidade puritana norte-americana (e canadiana, no caso) e tudo aquilo que Polanski supostamente representa para ela (a sofisticação europeia e o exotismo de um "artista maldito") não combinam está neste texto do site do Calgary Herald, a propósito da reedição em DVD de What? de 1972:
In October, a video of a little-seen 1972 Polanski film, called What?, is to be released. It's a comedy about an American girl locked in a Mediterranean villa and features scenes of gang rape and sodomy. Polanski himself is in the film. How could he not be?
Quem viu e conhece What?, produzido pelo maior produtor de Itália de então, Carlo Ponti, e que tinha como estrela Marcelo Mastroianni (e música de Schubert, A Donzela e a Morte), sabe que não há qualquer cena de violação ou sodomia no filme, uma das obras-primas da comédia absurda e melancólica, um género em que Polanski fez outro grande filme, Cul-de-Sac de 1966. Convém que alguém diga isto ao juiz que assumir o caso. As simplificações e deturpações só ficam mesmo bem quando um Harry Lime, pela boca de Orson Welles, as profere.
(PM)
domingo, 27 de setembro de 2009
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