"Quando se menciona a expressão 'literatura fantástica' várias reacções surgem de imediato. Para uns ela significa um género literário menor, marginal, uma literatura de mera fruição que se lê, despreocupadamente, durante as férias, ou ainda algo que é próprio para crianças ou jovens. Outros, quando confrontados com obras fantásticas de autores consagrados da chamada mainstream literature, isto é, da principal corrente literária aceite pelo público e por críticos como sendo 'a grande literatura', consideram-nas meros devaneios do 'génio', episódios sem significado de maior, ou resultados de uma moda, efémera como todas. Há, também, os que lêem quase exclusivamente obras fantásticas, enaltecendo as suas qualidades com o mesmo vigor com que outros as desprezam. Referindo ainda casos extremos de aceitação e de recusa da qualidade literária de obras pertencentes ao género fantástico, lembro aqueles que, extrapolando para além de limites admissíveis, defendem que toda a literatura é fantástica. Outros, colocando-se no extremo oposto, afirmam que tal género literário não existe, porque o fantástico não é sequer uma categoria do pensamento .
Estas posições antagónicas, ditadas muitas vezes pela emoção, estão na origem de certas afirmações pseudocientíficas claramente levianas produzidas em relação a este género literário. Para alguns críticos esta forma de expressão artística pertence à literatura popular, marginal à mainstream literature, tradicionalmente definida como mimético realista. Por isso, o fantástico é frequentemente considerado indigno de um estudo profundo, crítico e rigoroso. Rosemary Jackson, na obra Fantasy: The Literature of Subversion, refere-se a este comportamento da crítica literária e afirma que 'ao longo da sua história o fantástico tem sido ignorado e fechado à chave, enterrado como algo inadmissível e vergonhoso. [...] sistematicamente rejeitado pelos críticos como tratando-se de uma cedência à loucura, à irracionalidade ou ao narcisismo, [o fantástico] tem sido contraposto às práticas mais humanas e civilizadas da literatura realista.'"
Excerto de A Problemática do Espaço em "O Senhor dos Anéis" de Maria do Rosário Monteiro (o próximo livro que publicaremos, este Outono).
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
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Pessoalmente, tenho dificuldade em entender o preconceito para com a literatura fantástica, particularmente sabendo a relevância que esta teve ao longo da História. "Epopéia de Gilgamesh", a mais antiga obra literária do mundo pertence a este género e nele é acompanhada por outras tão celebradas como a "Ilíada" e a "Odisseia", por exemplo.
ResponderEliminarO rótulo de determinado género literário não deveria ser a bitola segundo a qual se avalia um livro, pois independentemente da categoria em que se inserem todas as obras literárias funcionam segundo a mesma permissa: a possibilidade de narrar uma história no qual, qualquer que seja a natureza das suas personagens, o drama da condição humana é explorado.
cronicasobscuras.blogspot.com