Recensão de José Riço Direitinho a MEMÓRIA DO FOGO 1. OS NASCIMENTOS de Eduardo Galeano no Ípsilon do PÚBLICO (18.11.11).
domingo, 20 de novembro de 2011
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Fórum Fantástico 2011
O Fórum Fantástico regressa hoje, e, como sempre, estaremos presentes com livros que representam a nata do nosso catálogo em termos do género. Assim, os distraídos que não leram ou compraram O SONHO DE BORGES, BURACOS NEGROS, CRIATURAS DA NOITE, PEQUENOS MISTÉRIOS, O PÁSSARO PINTADO e a obra-prima do Sr. Rhys Hughes UMA NOVA HISTÓRIA UNIVERSAL DA INFÂMIA, poderão comprá-los a preço de feira na banca da Dr. Kartoon. Estará ainda à venda o primeiro (e único) ensaio sobre a obra de J.R.R Tolkien publicado em Portugal, A SIMBÓLICA DO ESPAÇO EM O SENHOR DOS ANÉIS, da autoria da Prof. Maria do Rosário Monteiro, que publicámos e lançámos do Fórum no ano passado. (Oferta de 1 exemplar de DISNEY NO CÉU ENTRE OS DUMBOS de João Barreiros, edição limitada e assinada pelo autor, em compras dos nossos livros)
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
No fogo da linguagem
Recensão de Bruno Vieira Amaral a MEMÓRIA DO FOGO 1. OS NASCIMENTOS de Eduardo Galeano na LER de Novembro (já à venda).
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Livro do mês
Na Os Meus Livros de Novembro, MEMÓRIA DO FOGO 1. OS NASCIMENTOS de Eduardo Galeano é o "Livro do Mês".
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segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Promoção PAYPAL (porque é Outono, e porque sim)
Divulguem: em compras no nosso site pagas com Paypal que ultrapassem os 19,99 Euros, o/a feliz (acreditamos que sim) comprador/a poderá escolher 2 (dois) outros livros do nosso catálogo. Sem limitações, a não ser as do stock. (Se não sabem o que é o Paypal, visitem o site e comecem a usá-lo). Devem usar a referência "Promoção PAYPAL" ao fazerem a compra e indicar quais os livros pretendidos.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Bailinho
Uma linhas de texto que, na sua simplicidade, explicam muita coisa. Foram retiradas de uma guia de pagamento da IES (Informação Empresarial Simplificada): "SE A PRESTAÇÃO DE CONTAS RESPEITA A ENTIDADE COM SEDE NA ZONA FRANCA DA MADEIRA NÃO PROCEDA AO PAGAMENTO, UMA VEZ QUE O SEU REGISTO BENEFICIA DE GRATUITIDADE EMOLUMENTAR."
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Life is a pop of the cherry when you're a boy*
Recebemos este email há dias, e esses foram dias em que tentámos compreendê-lo. Não conseguimos. Decidimos colocar o grosso do seu conteúdo (salvaguardados a identidade do remetente e outros detalhes de ordem mais pessoal, que omitimos) para consulta aqui como medida pedagógica e como amostra do que passa por "edição" na cabeça de muito boa gente por aí (alguma dela, pelos vistos, com tanta idade quanta a que aparenta ter, e que devia ser melhor aconselhada). Aviso: pode provocar riso descontrolado, aconselha-se água com açúcar em caso de soluços.
"Boa tarde,
O meu nome é ................, tenho ..... anos [legalmente, um adolescente, mais novo do que o Justin Bieber, mais velho do que os rebentos da Britney Spears] e lidero um projecto que integra cerca de sete mil jovens entre os 12 e os 27 anos, denominado .................... . Trata-se não de um espaço físico, mas sim de uma reestruturação do conceito de Biblioteca, dirigindo-o para uma congregação de esforços e iniciativas que culminem na projecção, divulgação e aposta no talento dos jovens portugueses. Promovemos o empreendedorismo jovem e cremos num Portugal de futuro.
[Segue-se um parágrafo em que a obra literária por trás, ou pela frente, do projecto é apresentada, referindo-se um nome sonante dos media como prefaciador]
Contacto-os no sentido de propor-lhes uma parceria relativa à segunda obra da minha autoria, '....................' . O que proponho será uma parceria editorial, sendo que ao encargo da .................... ficaria a capa (já construída - segue em anexo, sendo que teria de ser alterada de forma a incluir igualmente a vossa editora), o design original e exclusivo do interior da obra (incluindo paginação) e o lançamento da mesma. À editora caberia o processo de revisão, processo tipográfico e de distribuição. A .................... requisitaria a percentagem de 15% dos lucros e a mim caber-me-iam (direitos de autor) 10%. A obra teria o formato 15x23, sem badanas, 220 páginas. [Fonte e corpo do texto, entrelinha, margens, tipo de acabamento, parecem ser da ordem da fantasia no meio deste meticuloso plano. Mas continue-se a leitura e mantenha-se o espanto...]
Tratar-se-á de uma obra com carácter inédito e exclusivo que poderá trazer muitos lucros a ambas as partes caso vise uma distribuição abrangente. Importa ainda constatar que a .................... tem programadas apresentações da obra em questão em dois principais canais televisivos nacionais (Programas: Querida Júlia, Sic; A Tarde é Sua - TVI) e em diversas estações de rádios (ex. TSF). [Ou seja: já há promoção garantida para um livro que ainda nem existe]
Contaremos ainda com um lançamento (ao encargo, repito, da .................... ) que visará diversas actuações teatrais, a participação da caracterizadora .................... , que caracterizará cerca de 10 jovens de índios brasileiros, actuações musicais, participação do mágico .................... , com magias de bolso e a grande magia de palco 'Caminhar descalso [sic] sobre uma passadeira de cacos de vidros', entre outras atracções. [E quem paga as pipocas? Certamente o editor...]
Resta-nos dizer que realizámos uma pequena sondagem [a quem: família, amigos, colegas no colégio?] que comprova o interesse das pessoas pela obra, pelo seu conteúdo e [eis o engodo] pela minha reduzida idade como autor. Abaixo encontra-se o book trailer e uma pequena sinopse da obra. Encontra-se ainda o book trailer do meu primeiro romance '.................... '.
Fico a aguardar."
E nós também, desejosos de saber se há peixe por esse tumultuoso lago capaz de morder isco tão escorregadio.
PS.: O booktrailer é igualmente antológico. Recomendamos.
* Verso da canção Boys keep swinging de David Bowie.
"Boa tarde,
O meu nome é ................, tenho ..... anos [legalmente, um adolescente, mais novo do que o Justin Bieber, mais velho do que os rebentos da Britney Spears] e lidero um projecto que integra cerca de sete mil jovens entre os 12 e os 27 anos, denominado .................... . Trata-se não de um espaço físico, mas sim de uma reestruturação do conceito de Biblioteca, dirigindo-o para uma congregação de esforços e iniciativas que culminem na projecção, divulgação e aposta no talento dos jovens portugueses. Promovemos o empreendedorismo jovem e cremos num Portugal de futuro.
[Segue-se um parágrafo em que a obra literária por trás, ou pela frente, do projecto é apresentada, referindo-se um nome sonante dos media como prefaciador]
Contacto-os no sentido de propor-lhes uma parceria relativa à segunda obra da minha autoria, '....................' . O que proponho será uma parceria editorial, sendo que ao encargo da .................... ficaria a capa (já construída - segue em anexo, sendo que teria de ser alterada de forma a incluir igualmente a vossa editora), o design original e exclusivo do interior da obra (incluindo paginação) e o lançamento da mesma. À editora caberia o processo de revisão, processo tipográfico e de distribuição. A .................... requisitaria a percentagem de 15% dos lucros e a mim caber-me-iam (direitos de autor) 10%. A obra teria o formato 15x23, sem badanas, 220 páginas. [Fonte e corpo do texto, entrelinha, margens, tipo de acabamento, parecem ser da ordem da fantasia no meio deste meticuloso plano. Mas continue-se a leitura e mantenha-se o espanto...]
Tratar-se-á de uma obra com carácter inédito e exclusivo que poderá trazer muitos lucros a ambas as partes caso vise uma distribuição abrangente. Importa ainda constatar que a .................... tem programadas apresentações da obra em questão em dois principais canais televisivos nacionais (Programas: Querida Júlia, Sic; A Tarde é Sua - TVI) e em diversas estações de rádios (ex. TSF). [Ou seja: já há promoção garantida para um livro que ainda nem existe]
Contaremos ainda com um lançamento (ao encargo, repito, da .................... ) que visará diversas actuações teatrais, a participação da caracterizadora .................... , que caracterizará cerca de 10 jovens de índios brasileiros, actuações musicais, participação do mágico .................... , com magias de bolso e a grande magia de palco 'Caminhar descalso [sic] sobre uma passadeira de cacos de vidros', entre outras atracções. [E quem paga as pipocas? Certamente o editor...]
Resta-nos dizer que realizámos uma pequena sondagem [a quem: família, amigos, colegas no colégio?] que comprova o interesse das pessoas pela obra, pelo seu conteúdo e [eis o engodo] pela minha reduzida idade como autor. Abaixo encontra-se o book trailer e uma pequena sinopse da obra. Encontra-se ainda o book trailer do meu primeiro romance '.................... '.
Fico a aguardar."
E nós também, desejosos de saber se há peixe por esse tumultuoso lago capaz de morder isco tão escorregadio.
PS.: O booktrailer é igualmente antológico. Recomendamos.
* Verso da canção Boys keep swinging de David Bowie.
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sábado, 24 de setembro de 2011
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Uma glândula chamada "consciência"
Eduardo Galeano no programa "Sangue Latino" do Canal Brasil, em 2009
O caminho para as Índias
Um excerto (lido por Juan Leyrado) de MEMÓRIA DO FOGO 1. OS NASCIMENTOS de Eduardo Galeano que estará no mercado a partir do dia 23.
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quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Curiouser and curiouser...
"A partir da próxima semana, este pequeno cartaz chega a todo o país através da rede de livrarias Bertrand." (ler o resto da notícia aqui).
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
"Somos livros" uniformizados
"Neste sentido todos os materiais de merchandising, catálogos, newsletters e restantes materiais de marketing foram alterados de acordo com a nova ortografia. Na sequência desta alteração e com o objetivo de assegurar uma uniformização dos conteúdos de forma a que sejamos coerentes na comunicação com os nossos leitores, solicitamos que os materiais de marketing das editoras a colocar nas Livrarias Bertrand sejam enviados de acordo com a nova ortografia." (de email recebido da Bertrand)Apenas uma singela (e absolutamente inocente) pergunta: no contexto dessa "uniformização dos conteúdos", quando vão começar a impedir a venda de livros cuja ortografia não obedece deliberadamente (i.e., por convicção) ao dito "Acordo Ortográfico"?
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domingo, 28 de agosto de 2011
Em breve
MEMÓRIA DO FOGO 1. OS NASCIMENTOS de Eduardo Galeano estará no mercado sensivelmente a partir de meados de Setembro. Podem ler entretanto algo do seu conteúdo neste pequeno flipbook.
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sexta-feira, 19 de agosto de 2011
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Vieira
"1640 / São Salvador da Baía
Cintila-lhe a boca enquanto lança palavras armadas como exércitos. O orador mais perigoso do Brasil é um sacerdote português criado na Baía, baiano de alma.
Os holandeses invadiram estas terras e o jesuíta António Vieira pergunta aos senhores coloniais se não somos nós de cor tão escura em relação aos holandeses, como os índios em relação a nós. Do alto do púlpito, o dono da palavra increpa os donos da terra e da gente:
– Hei-de ser senhor porque nasci mais longe do sol, e outros hão-de ser escravos porque nasceram mais perto? Não pode haver maior inconsideração do entendimento, nem maior erro de juízo entre os homens!
Na igreja da Ajuda, a mais antiga do Brasil, António Vieira acusa também Deus, culpado de ajudar os invasores holandeses:
– Embora sejamos nós os pecadores, haveis de ser Vós, hoje, o arrependido!"
Eduardo Galeano, Memória do Fogo – Os Nascimentos (tradução de António Marques; no prelo)
Cintila-lhe a boca enquanto lança palavras armadas como exércitos. O orador mais perigoso do Brasil é um sacerdote português criado na Baía, baiano de alma.
Os holandeses invadiram estas terras e o jesuíta António Vieira pergunta aos senhores coloniais se não somos nós de cor tão escura em relação aos holandeses, como os índios em relação a nós. Do alto do púlpito, o dono da palavra increpa os donos da terra e da gente:
– Hei-de ser senhor porque nasci mais longe do sol, e outros hão-de ser escravos porque nasceram mais perto? Não pode haver maior inconsideração do entendimento, nem maior erro de juízo entre os homens!
Na igreja da Ajuda, a mais antiga do Brasil, António Vieira acusa também Deus, culpado de ajudar os invasores holandeses:
– Embora sejamos nós os pecadores, haveis de ser Vós, hoje, o arrependido!"
Eduardo Galeano, Memória do Fogo – Os Nascimentos (tradução de António Marques; no prelo)
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quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Infâmia recordada
Com algum atraso, mas aqui fica: o registo da inclusão de UMA NOVA HISTÓRIA UNIVERSAL DA INFÂMIA de Rhys Hughes nas 100 edições mais memoráveis dos 100 primeiros números da revista Os Meus Livros, em lista publicada no mês passado.
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sexta-feira, 15 de julho de 2011
Apocalípticos e dissolvidos
Lê-se e não se acredita:
"O escritor italiano Umberto Eco vai reescrever o romance 'O Nome da Rosa', que lhe garantiu a notoriedade mundial, para o tornar 'mais acessível a novos leitores', noticiou o diário romano 'La Repubblica'.É, pois, oficial: os "integrados" ganham aos "apocalípticos" por KO e passam a chamar-se "dissolvidos".
Eco vai aligeirar várias passagens da obra assim como a linguagem usada no 'thriller' medieval, com ação passada no século XV, para o aproximar das novas gerações e das novas tecnologias. 'O Nome da Rosa' teve origem na paixão declarada do autor, um medievalista confesso, pelos livros e pela cultura da época.
O escritor tem por objetivo ultrapassar a dificuldade idiomática ou a densidade de várias passagens da obra, assim como chegar àqueles que só conhecem excertos publicados na internet, através das potencialidades de uma nova edição digital." (in Visão)
terça-feira, 12 de julho de 2011
Oitenta anos
Com atraso de alguns dias, aqui fica a nossa lembrança do aniversário do cineasta António de Macedo. E a lembrança de um post publicado por nós a 5 de Outubro de 2008, depois da exibição de um fabuloso documentário "perdido" sobre Almada Negreiros, filmado em 1969 (as últimas imagens em filme do artista, que morreria no ano seguinte). Foi exibido nas Belas Artes de Lisboa durante o Fórum Fantástico de 2008. (Preparamos um livro de ensaios sobre o fantástico em Portugal, um dos quais é da autoria de António de Macedo.)
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António de Macedo
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Onde não há mercado, não há Acordo
(Adaptado de uma troca de opiniões no Facebook com o livreiro Sérgio Lavos)
Como em tudo, eu tendo a guiar-me não tanto pelo que é feito ou proposto (no caso, este Acordo Ortográfico), mas pela forma como é feito ou proposto. E este AO, negociado ainda em pleno cavaquismo, é uma prova da contínua falta de confiança nos referendos, na consulta, no escrutínio da população cuja vida e hábitos serão afectados pelo mesmo (a mesma coisa se passou com a entrada no Euro, com os resultados sabidos...). A questão é a do mercado: um suposto Acordo não vai resolver o simples problema de que entre nós e os outros países de expressão portuguesa, sobretudo o Brasil, não há um mercado cultural (no caso do livro, um mercado com envios postais mais baratos e uniformizados, com baixos impostos para os livros, com abatimento das barreiras alfandegárias, etc). Um mercado em que enviar um livro para o Brasil não custe um terço do seu PVP, obrigando à desistência dos leitores brasileiros interessados (falo por experiência: nunca tivemos um livro nosso recusado por leitores brasileiros pela sua ortografia, mas pelo custo dos portes, ou "fretes", de envio). Tivesse-se primeiro tratado da criação desse mercado da palavra impressa, e eu seria hoje um acérrimo defensor do AO.
Quando, há uns anos (estava eu na onda da ilusão de que se ia conseguir vender alguns livros a conta firme para livrarias brasileiras), um livreiro de uma das melhores livrarias do Rio (que até queria uns livros da Livros de Areia) me disse ao telefone que lhe ficava mais barato e preferia encomendar livros dos Estados Unidos do que de Portugal, fiquei definitivamente "vacinado" contra esta obsessão do AO. Sem resolver essa simples questão (uma editora portuguesa tem livros que quer vender, um livreiro ou leitor brasileiro tem interesse nesses livros, e o que está entre eles impede a satisfação de ambas as partes), receio bem que este Acordo não servirá de nada.
(PM)
Como em tudo, eu tendo a guiar-me não tanto pelo que é feito ou proposto (no caso, este Acordo Ortográfico), mas pela forma como é feito ou proposto. E este AO, negociado ainda em pleno cavaquismo, é uma prova da contínua falta de confiança nos referendos, na consulta, no escrutínio da população cuja vida e hábitos serão afectados pelo mesmo (a mesma coisa se passou com a entrada no Euro, com os resultados sabidos...). A questão é a do mercado: um suposto Acordo não vai resolver o simples problema de que entre nós e os outros países de expressão portuguesa, sobretudo o Brasil, não há um mercado cultural (no caso do livro, um mercado com envios postais mais baratos e uniformizados, com baixos impostos para os livros, com abatimento das barreiras alfandegárias, etc). Um mercado em que enviar um livro para o Brasil não custe um terço do seu PVP, obrigando à desistência dos leitores brasileiros interessados (falo por experiência: nunca tivemos um livro nosso recusado por leitores brasileiros pela sua ortografia, mas pelo custo dos portes, ou "fretes", de envio). Tivesse-se primeiro tratado da criação desse mercado da palavra impressa, e eu seria hoje um acérrimo defensor do AO.
Quando, há uns anos (estava eu na onda da ilusão de que se ia conseguir vender alguns livros a conta firme para livrarias brasileiras), um livreiro de uma das melhores livrarias do Rio (que até queria uns livros da Livros de Areia) me disse ao telefone que lhe ficava mais barato e preferia encomendar livros dos Estados Unidos do que de Portugal, fiquei definitivamente "vacinado" contra esta obsessão do AO. Sem resolver essa simples questão (uma editora portuguesa tem livros que quer vender, um livreiro ou leitor brasileiro tem interesse nesses livros, e o que está entre eles impede a satisfação de ambas as partes), receio bem que este Acordo não servirá de nada.
(PM)
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Acordo Ortográfico
"O requerimento"
"1514, Rio Sinu.
Navegaram muito mar e muito tempo e estão fartos de calores, selvas e mosquitos. Cumprem, não obstante, as instruções do rei: não se pode atacar os indígenas sem requerer, antes, a sua subjugação. Santo Agostinho autoriza a guerra contra quem abuse da sua liberdade, porque na sua liberdade estariam em perigo não sendo domados; mas bem o diz Santo Isidoro que nenhuma guerra é justa sem prévia declaração.
Antes de se lançar sobre o ouro, grãos de ouro talvez do tamanho de ovos, o advogado Martín Fernández de Enciso lê com pontos e vírgulas o ultimato que o intérprete, aos tropeções, demorando-se na entrega, vai traduzindo.
Enciso fala em nome do rei D. Fernando e da rainha D. Juana, sua filha, domadores das gentes bárbaras. Faz saber aos índios do Sinu que Deus veio ao mundo e deixou em seu lugar S. Pedro, que S. Pedro tem como sucessor o Santo Padre e que o Santo Padre, Senhor do Universo, fez mercê ao rei de Castela de toda a terra das Índias e desta península.
Os soldados assam nas armaduras. Enciso letra miúda e sílaba lenta, exige aos índios que deixem estas terras, pois não lhes pertencem, e que, se quiserem continuar a viver aqui, paguem a suas Altezas tributo de ouro em sinal de obediência. O intérprete faz o que pode.
Os caciques escutam, sentados, sem pestanejar, o estranho personagem que lhes anuncia que em caso de negativa ou demora lhes fará guerra, os converterá em escravos bem como suas mulheres e filhos e como tais os venderá e deles disporá, e que as mortes e os danos dessa justa guerra não serão culpa dos espanhóis.
Respondem os caciques, sem olharem para Enciso, que muito generoso com o alheio tinha sido o Santo Padre, que devia estar bêbado quando dispôs do que não era seu, e que o rei de Castela é um atrevido, porque vem ameaçar quem não conhece.
Então, corre sangue.
Em seguida, o longo discurso se lerá em plena noite, sem intérprete e a meia légua das aldeias que serão assaltadas de surpresa. Os indígenas, adormecidos, não escutarão as palavras que os declaram culpados dos crimes cometidos contra eles."
Eduardo Galeano, Memória do Fogo – Os Nascimentos (tradução de António Marques; no prelo)
Navegaram muito mar e muito tempo e estão fartos de calores, selvas e mosquitos. Cumprem, não obstante, as instruções do rei: não se pode atacar os indígenas sem requerer, antes, a sua subjugação. Santo Agostinho autoriza a guerra contra quem abuse da sua liberdade, porque na sua liberdade estariam em perigo não sendo domados; mas bem o diz Santo Isidoro que nenhuma guerra é justa sem prévia declaração.
Antes de se lançar sobre o ouro, grãos de ouro talvez do tamanho de ovos, o advogado Martín Fernández de Enciso lê com pontos e vírgulas o ultimato que o intérprete, aos tropeções, demorando-se na entrega, vai traduzindo.
Enciso fala em nome do rei D. Fernando e da rainha D. Juana, sua filha, domadores das gentes bárbaras. Faz saber aos índios do Sinu que Deus veio ao mundo e deixou em seu lugar S. Pedro, que S. Pedro tem como sucessor o Santo Padre e que o Santo Padre, Senhor do Universo, fez mercê ao rei de Castela de toda a terra das Índias e desta península.
Os soldados assam nas armaduras. Enciso letra miúda e sílaba lenta, exige aos índios que deixem estas terras, pois não lhes pertencem, e que, se quiserem continuar a viver aqui, paguem a suas Altezas tributo de ouro em sinal de obediência. O intérprete faz o que pode.
Os caciques escutam, sentados, sem pestanejar, o estranho personagem que lhes anuncia que em caso de negativa ou demora lhes fará guerra, os converterá em escravos bem como suas mulheres e filhos e como tais os venderá e deles disporá, e que as mortes e os danos dessa justa guerra não serão culpa dos espanhóis.
Respondem os caciques, sem olharem para Enciso, que muito generoso com o alheio tinha sido o Santo Padre, que devia estar bêbado quando dispôs do que não era seu, e que o rei de Castela é um atrevido, porque vem ameaçar quem não conhece.
Então, corre sangue.
Em seguida, o longo discurso se lerá em plena noite, sem intérprete e a meia légua das aldeias que serão assaltadas de surpresa. Os indígenas, adormecidos, não escutarão as palavras que os declaram culpados dos crimes cometidos contra eles."
Eduardo Galeano, Memória do Fogo – Os Nascimentos (tradução de António Marques; no prelo)
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terça-feira, 5 de julho de 2011
Entre as 100 dos 100
UMA NOVA HISTÓRIA UNIVERSAL DA INFÂMIA de Rhys Hughes, que publicámos em Abril de 2006, está entre as 100 edições mais marcantes dos 100 meses (e correspondentes aos 100 números) de vida da revista Os Meus Livros, na edição que este mês comemora esse aniversário.
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segunda-feira, 4 de julho de 2011
Nem mais
"... eu gostaria de lembrar ao Francisco José Viegas que caminhos sem retorno também eram, ou são, o TGV, o aeroporto de Alcochete, a bancarrota, a gripe suína e o declínio do Belenenses. O trabalho de um governante consiste, suponho, em tentar contrariar as desgraças ditas inevitáveis. Aceitá-las de braços caídos tende um bocadinho para o fácil e talvez não justifique o salário. [...] Se o objectivo do Governo eleito fosse torrar fortunas em disparates, a 'implementação' do AO viria a calhar. Sucede que o momento é, ou assim nos garantem, de austeridade, por isso dói ver aumentos de impostos contrabalançados por desperdícios quantitativamente pequenos e simbolicamente desmesurados." (Alberto Gonçalves, in "Diário de Notícias", 03.07.2011)
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sexta-feira, 1 de julho de 2011
"Só por aberrante raciocínio"
Da crónica de Vasco Graça Moura no Diário de Notícias de 29.06.11 (e se precisam de explicador ou "diagramas" para perceberem isto, não há Acordo que vos salve...):
"Isto é tanto mais grave quanto é certo que o Acordo Ortográfico não se encontra em vigor. Só por aberrante raciocínio jurídico poderia aceitar-se o contrário, uma vez que o documento não foi ratificado nem por Angola nem por Moçambique, pelo menos. Logo não produz efeitos na ordem interna de nenhum dos oito países subscritores. [...]
Não vale absolutamente nada um protocolo laboriosamente parturejado na CPLP, para forçar os países que não querem acordo nenhum a 'engolirem' o dito, lá porque houve três ratificações.
Esse protocolo também não foi ratificado. E há onze anos que esses países mostram que não querem o acordo. Lembram-se de que, por cá, havia uns responsáveis da Cultura que há uns tempos andavam a anunciar triunfalmente a ratificação iminente dele por Angola e Moçambique? Era já para dali a meia dúzia de dias... [...]
A 'aplicação' do Acordo a que se vem assistindo em Portugal viola nada mais nada menos do que... o próprio Acordo, uma vez que se está a abrir a porta à divergência ortográfica ao abrigo do delirante princípio das facultatividades.
Foge-se à norma por aplicação absolutamente insensível e estúpida da base IV do documento: no Brasil nunca se escreveu aceção, perceção, deceção, receção, espetador, rutura, perentório... Basta consultar um qualquer dicionário brasileiro."
"Isto é tanto mais grave quanto é certo que o Acordo Ortográfico não se encontra em vigor. Só por aberrante raciocínio jurídico poderia aceitar-se o contrário, uma vez que o documento não foi ratificado nem por Angola nem por Moçambique, pelo menos. Logo não produz efeitos na ordem interna de nenhum dos oito países subscritores. [...]
Não vale absolutamente nada um protocolo laboriosamente parturejado na CPLP, para forçar os países que não querem acordo nenhum a 'engolirem' o dito, lá porque houve três ratificações.
Esse protocolo também não foi ratificado. E há onze anos que esses países mostram que não querem o acordo. Lembram-se de que, por cá, havia uns responsáveis da Cultura que há uns tempos andavam a anunciar triunfalmente a ratificação iminente dele por Angola e Moçambique? Era já para dali a meia dúzia de dias... [...]
A 'aplicação' do Acordo a que se vem assistindo em Portugal viola nada mais nada menos do que... o próprio Acordo, uma vez que se está a abrir a porta à divergência ortográfica ao abrigo do delirante princípio das facultatividades.
Foge-se à norma por aplicação absolutamente insensível e estúpida da base IV do documento: no Brasil nunca se escreveu aceção, perceção, deceção, receção, espetador, rutura, perentório... Basta consultar um qualquer dicionário brasileiro."
Novo URL
Podem aceder ao nosso site pelo novo url: http://livrosdeareiaeditores.com. Divulguem e façam constar, se fizerem o favor. Obrigados.
"Caminho sem retorno"
" 'O acordo ortográfico é uma nova norma do acordo a que se chegou e é para ser implementado. Vamos prosseguir o trabalho de implementação porque é um caminho sem retorno', disse à agência Lusa Francisco José Viegas." (in Sol, 29.06.11)Aparentemente, os poderes concedidos ao novo Secretário de Estado da Cultura não abrangem a marcha-atrás (nem, pelos vistos, a clareza de discurso: "o acordo ortográfico é uma nova norma do acordo a que se chegou"?). Marcha-atrás para onde, perguntarão. Não muito atrás, apenas a Outubro de 2010. Nesse mês, o Partido Social Democrata (pelo qual Francisco José Viegas foi eleito deputado por Bragança e depois empossado como responsável pelos assuntos culturais do XIX Governo) publicou, através do seu Gabinete de Estudos Nacional, um relatório intitulado Cortar na Despesa, compilado a partir de sugestões apresentadas ao partido e consideradas por este relevantes. Ora é precisamente este termo, "relevante", que se usa na página 16 desse relatório para designar a proposta relacionada com o Acordo Ortográfico:
"Outra proposta relevante foi a rejeição do Acordo Ortográfico, de modo a evitar os custos que a sua aplicação imporá ao sector editorial."
Além do adjectivo, o nome "custos" pareceria, agora, em plena governação sob tutela da "troika", poder funcionar como campainha de alerta para um ponderado regresso ao texto deste relatório e uma meia-volta na senda do "Acordo". Mas parece não ser isso que pensa o Secretário de Estado, o qual, a julgar pelas suas próprias palavras, irá decidir com base em retórica vaga e metendo-se em caminhos "sem retorno". Esperemos que não acabe num beco. Sem saída.
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terça-feira, 28 de junho de 2011
Treze ou vinte e três
"Só os bens essenciais manterão a taxa mais reduzida." (in Diário de Notícias, 28.06.11)Eis possivelmente o primeiro grande teste à suposta influência do novo Secretário de Estado da Cultura. Conseguirá ele fazer valer a tese que supostamente terá guiado a sua carreira até aqui, a de que os livros são produtos culturais de primeira necessidade, logo "bens essenciais" à vida cultural, e convencer o Governo a não subir o IVA dos livros? Sabendo-se, contudo, da grande conta em que se tem a leitura e os livros por cá, não é de admirar que em breve se aplique a estes uma taxa de IVA de 13% ou até de 23%.
"Grupos editoriais de referência"
"A fim de valorizar o papel da Cultura portuguesa no Mundo o Governo irá sistematizar o programa de tradução de literatura portuguesa no estrangeiro, com o objectivo alargá-lo a todos os países da União Europeia no prazo da legislatura, com apoio do MNE/Instituto Camões e a participação dos grupos editoriais de referência." (do PROGRAMA DO XIX GOVERNO CONSTITUCIONAL, p. 122)
A fim de tornar as coisas mais claras, o Governo devia era começar por definir exactamente o que são "grupos editoriais de referência". Sabendo-se que Francisco José Viegas, o recém-empossado Secretário de Estado da Cultura, vem de um desses supostos "grupos editoriais de referência", a Porto Editora, tal esclarecimento, bem como o dos critérios (o mercado? a Academia? os "tops"?) que aferem de tal "referência", seria benéfico para todos.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Do estado da imprensa literária
De um email recebido hoje (o nome do jornal em questão foi omitido, o resto é transcrito ipsis verbis, com negritos nossos)
"Infelizmente, o .......... terá de colocar um fim à secção livros, pelo menos nos moldes actuais [...]. Devido à falta de meios humanos no nosso jornal, diariamente era obrigado a fazer as manchetes e o trabalho duro da secção em casa, após o horário normal do .......... (e aos fins-de-semana nem se fala, actualizando o que estava em atraso), já que a prioridade do jornal, no que me diz respeito, é o Desporto (e durante esse horário aproveitava para dar as vossas novidades, lançamentos e notícias)."
Entre "guerras das estrelas" e polivalência, assim vai a nossa imprensa "literária", impressa ou online, que parece não ter aptidão ou meios para cobrir, criticar ou sequer mencionar a enorme quantidade e variedade de títulos publicados. E talvez vá sendo hora de começar a pensar que não, não se publica demais, sendo antes os jornais e revistas poucos, e esses poucos bem pouco capazes de estar ao nível dessa variedade de oferta.
(PM)
"Infelizmente, o .......... terá de colocar um fim à secção livros, pelo menos nos moldes actuais [...]. Devido à falta de meios humanos no nosso jornal, diariamente era obrigado a fazer as manchetes e o trabalho duro da secção em casa, após o horário normal do .......... (e aos fins-de-semana nem se fala, actualizando o que estava em atraso), já que a prioridade do jornal, no que me diz respeito, é o Desporto (e durante esse horário aproveitava para dar as vossas novidades, lançamentos e notícias)."
Entre "guerras das estrelas" e polivalência, assim vai a nossa imprensa "literária", impressa ou online, que parece não ter aptidão ou meios para cobrir, criticar ou sequer mencionar a enorme quantidade e variedade de títulos publicados. E talvez vá sendo hora de começar a pensar que não, não se publica demais, sendo antes os jornais e revistas poucos, e esses poucos bem pouco capazes de estar ao nível dessa variedade de oferta.
(PM)
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Feira do Livro do Porto
Se ainda restarem alguns na Feira do Livro do Porto, estaremos representados pela Companhia das Artes nos stands A53 e A55.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
"Y hasta aquí llegué":
Eduardo Galeano em Barcelona
Discurso de Eduardo Galeano (autor de FUTEBOL: SOL E SOMBRA) na aceitação do Prémio Manuel Vázquez Montalbán em Barcelona, ontem à tarde (fonte: Pagina/12).
"Quiero dedicar este premio a la memoria de Josep Sunyol, el presidente del Barça que en 1936 fue asesinado por los enemigos de la democracia.
Y también quiero rendir homenaje a los deportistas peregrinos, que un año después, en 1937, encarnaron la dignidad, malherida pero viva, de toda España. Me refiero a los jugadores del Barça, que en 1937 recorrieron los Estados Unidos y México, disputando partidos de fútbol en beneficio de la República, y a la selección de jugadores vascos, que hizo lo mismo en varios países europeos.
Por ellos me emociona recibir este premio, por ellos y también por los jugadores del Barça de nuestros días, dignos herederos del Barça de aquellos años: este premio que, por si todo eso fuera poco, lleva el nombre de mi entrañable amigo Manolo Vázquez Montalbán.
Con él hemos compartido varias pasiones.
Futboleros los dos, y los dos zurdos, zurdos para pensar, creímos que la mejor manera de jugar por la izquierda consistía en reivindicar la libertad de quienes tienen el coraje de jugar por el placer de jugar en un mundo que manda jugar por el deber de ganar. Y en ese camino hemos intentado combatir los prejuicios de mucha gente de derechas, que cree que el pueblo piensa con los pies, y también los prejuicios de muchos compañeros de izquierdas, que creen que el fútbol tiene la culpa de que el pueblo no piense.
También nos identificamos, Manolo y yo, en el placer de la ironía y la risa franca y todas las formas del humor, en nuestras maneras de decir lo que pensamos y lo que sentimos, en los artículos y en los libros y en las charlas de café. Porque no son dignos de confianza los solemnes caballeros, ni las damas ejemplares, que no son capaces de tomarse el pelo; y ni Manolo ni yo confundimos el aburrimiento con la seriedad, como también ocurre con otros colegas de ideas políticas parecidas a las nuestras.
Y conste que no hablo en tiempo presente por error ni por descuido, sino porque fuentes bien informadas me han asegurado que la muerte no es más que un chiste de mal gusto.
Y otro espacio compartido, muy importante para los dos: la reivindicación de la buena comida como una celebración de la diversidad cultural.
Bien decía Antonio Machado que ahora cualquier necio confunde valor y precio, y aquel ahora del poeta es también nuestro ahora, porque lo mismo ocurre en nuestros días.
La mejor comida no es la más cara y bien lo ha dicho Manolo, que más bien ocurre que la comida más cara no es más que una trampa engañabobos.
Y yo también creo, como él, que el derecho a la autodeterminación de los pueblos incluye el derecho a la autodeterminación de la barriga. Y es más que nunca necesario defender ese derecho, más que nunca, en estos tiempos de obligatoria macdonaldización del mundo, cada vez más desigual en las oportunidades que brinda y cada vez más igualador en las costumbres que impone.
Y hasta aquí llegué. Porque yo sé que cuando bebo demasiado corro el grave riesgo de decir estupideces, y yo quise alzar estas palabras como si fueran copas de vino, un buen vino tinto de por acá, para brindar con Manolo y por Manolo: una manera de beber
por la dignidad humana y por la solidaridad,
por el placer de jugar y la alegría de ver jugar cuando se juega limpiamente,
por la alegría de estar juntos y por el pan y el vino compartidos,
por los soles que cada noche esconde
y por todas las pasiones, a veces dolorosas, que dan rumbo y sentido al viaje humano, al humano andar,
al vent del món."
"Quiero dedicar este premio a la memoria de Josep Sunyol, el presidente del Barça que en 1936 fue asesinado por los enemigos de la democracia.
Y también quiero rendir homenaje a los deportistas peregrinos, que un año después, en 1937, encarnaron la dignidad, malherida pero viva, de toda España. Me refiero a los jugadores del Barça, que en 1937 recorrieron los Estados Unidos y México, disputando partidos de fútbol en beneficio de la República, y a la selección de jugadores vascos, que hizo lo mismo en varios países europeos.
Por ellos me emociona recibir este premio, por ellos y también por los jugadores del Barça de nuestros días, dignos herederos del Barça de aquellos años: este premio que, por si todo eso fuera poco, lleva el nombre de mi entrañable amigo Manolo Vázquez Montalbán.
Con él hemos compartido varias pasiones.
Futboleros los dos, y los dos zurdos, zurdos para pensar, creímos que la mejor manera de jugar por la izquierda consistía en reivindicar la libertad de quienes tienen el coraje de jugar por el placer de jugar en un mundo que manda jugar por el deber de ganar. Y en ese camino hemos intentado combatir los prejuicios de mucha gente de derechas, que cree que el pueblo piensa con los pies, y también los prejuicios de muchos compañeros de izquierdas, que creen que el fútbol tiene la culpa de que el pueblo no piense.
También nos identificamos, Manolo y yo, en el placer de la ironía y la risa franca y todas las formas del humor, en nuestras maneras de decir lo que pensamos y lo que sentimos, en los artículos y en los libros y en las charlas de café. Porque no son dignos de confianza los solemnes caballeros, ni las damas ejemplares, que no son capaces de tomarse el pelo; y ni Manolo ni yo confundimos el aburrimiento con la seriedad, como también ocurre con otros colegas de ideas políticas parecidas a las nuestras.
Y conste que no hablo en tiempo presente por error ni por descuido, sino porque fuentes bien informadas me han asegurado que la muerte no es más que un chiste de mal gusto.
Y otro espacio compartido, muy importante para los dos: la reivindicación de la buena comida como una celebración de la diversidad cultural.
Bien decía Antonio Machado que ahora cualquier necio confunde valor y precio, y aquel ahora del poeta es también nuestro ahora, porque lo mismo ocurre en nuestros días.
La mejor comida no es la más cara y bien lo ha dicho Manolo, que más bien ocurre que la comida más cara no es más que una trampa engañabobos.
Y yo también creo, como él, que el derecho a la autodeterminación de los pueblos incluye el derecho a la autodeterminación de la barriga. Y es más que nunca necesario defender ese derecho, más que nunca, en estos tiempos de obligatoria macdonaldización del mundo, cada vez más desigual en las oportunidades que brinda y cada vez más igualador en las costumbres que impone.
Y hasta aquí llegué. Porque yo sé que cuando bebo demasiado corro el grave riesgo de decir estupideces, y yo quise alzar estas palabras como si fueran copas de vino, un buen vino tinto de por acá, para brindar con Manolo y por Manolo: una manera de beber
por la dignidad humana y por la solidaridad,
por el placer de jugar y la alegría de ver jugar cuando se juega limpiamente,
por la alegría de estar juntos y por el pan y el vino compartidos,
por los soles que cada noche esconde
y por todas las pasiones, a veces dolorosas, que dan rumbo y sentido al viaje humano, al humano andar,
al vent del món."
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sexta-feira, 20 de maio de 2011
"Yumuşak Makine"
Enquanto aqui vão imperando as obsessões monopolistas e as estratégias de marketing que tentam fazer passar por algo livros que não são nada, na Turquia a coragem e o gosto arrojado na edição ainda estão vivos. A Sel, e o seu editor, Irfan Sanci, arriscam a cadeia por publicar William Burroughs. Por 4 Euros mais portes, mais vale este livro em turco do que centenas dos que se "publicam" em português por aí.
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Aguardamos
Para quando um pedido de desculpas da APEL aos adeptos do Futebol Clube do Porto por possíveis arranhões e outras maleitas enquanto vandalizavam os stands da Feira do Livro do Porto nos festejos da vitória na Liga Europa? E um apoio financeiro à compra de pensos rápidos, já agora. Aguardamos.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Eduardo Galeano recebe o Prémio Manuel Vázquez Montalbán
Tendo-lhe sido atribuído em 2010, pela Fundação do FC Barcelona, o Prémio Manuel Vázquez Montalbán pela sua carreira de cronista desportivo (e autor de um dos livros de referência sobre a história do futebol, FUTEBOL: SOL E SOMBRA que publicámos em 2006), Eduardo Galeano irá a Barcelona recebê-lo no dia 24 deste mês, em cerimónia a decorrer no Palau de la Generalitat às 19:00 horas. Outros receptores do mesmo prémio foram já nomes como Simon Kuper ou Roberto Saviano. O autor de um dos melhores livros de sempre sobre o futebol recebe um prémio associado a um dos melhores clubes de sempre: apesar de tudo, ainda há coisas com lógica.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Isto
"É improvável, no entanto, que Luiz Pacheco achasse muita graça a esta Lisboa sem cafés, quase sem eléctricos, às montras todas iguais das livrarias todas iguais, aos cagalhões líricos que por aí andam, passeiam e triunfam, aos blogs e booktailers [sic] de inúmeras excrescências tibiamente respeitadas. Com todos os seus defeitos (e eram muitos), Luiz Pacheco não contribuiu para isto. Ainda bem"
(Vítor Silva Tavares, "Pacheco, editor-orquestra", in Luiz Pacheco Contraponto, p. 17, Biblioteca Nacional / D.Quixote, 2009)
(Vítor Silva Tavares, "Pacheco, editor-orquestra", in Luiz Pacheco Contraponto, p. 17, Biblioteca Nacional / D.Quixote, 2009)
terça-feira, 3 de maio de 2011
E o nosso momento de comédia
de hoje é trazido por...
... Pedro Chagas Freitas, o intrépido "Mourinho" da escrita criativa, o homem que está 24 horas a escrever sem pôr vaselina na ponta dos dedos ou limpar a baba do teclado. É o Público (sim, esse mesmo, o jornal "de referência") que nos "informa" que esta luminária pretende "escrever o maior romance do mundo, contado [sic] por mil autores." Todo o texto é digno de uma tese de doutoramento e uma ala no Júlio de Matos, mas fica apenas o último parágrafo como amostra do nível de lunatismo de comungam as pessoas que avançam com estas mal mascaradas estratégias de auto-promoção comercial e as que as transformam em notícias impressas em jornais "sérios":
(PM)
"'A ideia é juntar os autores todos, mais os seus convidados, familiares e amigos, num evento único. Normalmente um lançamento de um livro junta cerca de 200 a 300 pessoas, aqui o objectivo é juntar milhares', conclui."No mundo em que este Donald Trump da edição literária vive, um lançamento de livro "normal" reúne facilmente cerca de 300 pessoas a assistir, mas conseguir chegar à "segunda página" parece ser mais difícil ("eu já escrevi o início da história e agora falta alguém que escolha a página dois"). Não há ninguém da Fundação Talento que lhe dê uma ajuda?
(PM)
sábado, 30 de abril de 2011
E porque não...
... duas Feiras do Livro? Uma dos editores pequenos, médios, remediados, assim-assim e alfarrabistas (a das "barraquinhas" e farturas) e outra a dos "donos dos livros". Em datas distintas, no mesmo local. Se o mercado está a partir-se em dois por força dos 3 grupos, porque não assumir isso já na Feira, e acabar com esta convivência incómoda, o cheiro a sovaco de uns abafado com borrifadelas de Chanel n.5 de outros? Tenho é a impressão de que, no fim, os "analistas" do mercado ficariam espantados com a comparação dos números da afluência entre as duas feiras. (PM)
sexta-feira, 29 de abril de 2011
terça-feira, 26 de abril de 2011
Por falar em Feira...
Estaremos presentes na Feira do Livro de Lisboa nos pavilhões da Companhia das Artes (A40 e A42).
Pergunta inocente
Se a Babel, a Leya e a Porto Editora são os "donos dos livros", que papel tem a APEL? E será que na próxima Feira se vai começar a pagar directamente ao triunvirato, em vez de à APEL, pela honra de lá se estar?
terça-feira, 12 de abril de 2011
"POSTALAPOCALÍPTICA": em tempo de crise
T-SHIRTS a preço de crise: temos algumas t-shirts "POSTALAPOCALÍPTICA", com um mini conto exclusivo de Rhys Hughes estampado na frente, a 8.00 Euros. Disponíveis em tamanhos S (1), M (3), L (2) e XL (4). STOCK LIMITADO E FINAL. Consultem a LOJA no nosso site.
sábado, 9 de abril de 2011
"Hatuey"
"1511, Yara.
Nestas ilhas e nestes lugares de tortura, são muitos os que escolhem a morte, enforcando-se ou bebendo veneno junto de seus filhos. Os invasores não podem evitar esta vingança, mas sabem explicá-la: os índios, tão selvagens que pensam que tudo é natural, dirá Oviedo, são gente por natureza ociosa e viciosa, e de pouco trabalho... Muitos deles, como seu passatempo, mataram-se com veneno para não trabalhar, e outros enforcaram-se por suas próprias mãos.
Hatuey, chefe índio da região da Guahaba, não se suicidou. Em canoa fugiu de Haiti, juntamente com os seus, e refugiou-se nas covas e nos montes do oriente de Cuba.
Aí apontou para uma cesta cheia de ouro e disse:
- Este é o deus dos cristãos. Por ele nos perseguem. Por ele mataram os nossos pais e os nossos irmãos. Bailemos para ele. Se a nossa dança lhe agradar, este deus mandará que não nos maltratem.
Apanham-no três meses depois.
Atam-no a um pau.
Antes de acender o fogo que o reduziria a carvão e cinza, um sacerdote promete-lhe glória e eterno descanso se aceitar baptizar-se. Hatuey pergunta:
- Nesse céu, estão os cristãos?
- Sim
Hatuey escolhe o inferno e a lenha começa a crepitar."
Eduardo Galeano, Memória do Fogo – Os Nascimentos (tradução de António Marques; no prelo)
Nestas ilhas e nestes lugares de tortura, são muitos os que escolhem a morte, enforcando-se ou bebendo veneno junto de seus filhos. Os invasores não podem evitar esta vingança, mas sabem explicá-la: os índios, tão selvagens que pensam que tudo é natural, dirá Oviedo, são gente por natureza ociosa e viciosa, e de pouco trabalho... Muitos deles, como seu passatempo, mataram-se com veneno para não trabalhar, e outros enforcaram-se por suas próprias mãos.
Hatuey, chefe índio da região da Guahaba, não se suicidou. Em canoa fugiu de Haiti, juntamente com os seus, e refugiou-se nas covas e nos montes do oriente de Cuba.
Aí apontou para uma cesta cheia de ouro e disse:
- Este é o deus dos cristãos. Por ele nos perseguem. Por ele mataram os nossos pais e os nossos irmãos. Bailemos para ele. Se a nossa dança lhe agradar, este deus mandará que não nos maltratem.
Apanham-no três meses depois.
Atam-no a um pau.
Antes de acender o fogo que o reduziria a carvão e cinza, um sacerdote promete-lhe glória e eterno descanso se aceitar baptizar-se. Hatuey pergunta:
- Nesse céu, estão os cristãos?
- Sim
Hatuey escolhe o inferno e a lenha começa a crepitar."
Eduardo Galeano, Memória do Fogo – Os Nascimentos (tradução de António Marques; no prelo)
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segunda-feira, 4 de abril de 2011
"Morrem aqui, renascem ali"
"1677, Old Road Town.
Não o sabe o corpo, que pouco sabe, nem o sabe a alma que respira, mas sabe-o a alma que sonha, que é a que mais sabe: o negro que se mata na América ressuscita em África. Muitos escravos desta ilha de Saint Kitts deixam-se morrer negando-se a comer ou comendo não mais do que terra, cinza e cal; e outros atam-se uma corda ao pescoço. Nos bosques, entre as lianas que pendem dos grandes salgueiros-chorões, pendem escravos que não somente matam, ao matarem-se, a sua memória de dores; ao matarem-se também iniciam, em branca canoa, a viagem de regresso às terras de origem.
Um tal Bouriau, dono de plantações, anda na folhagem, machadinho na mão, decapitando enforcados:
– Pendurem-se, se quiserem! – adverte os vivos. – Lá nos vossos países não terão cabeça nem poderão ver, nem ouvir, nem falar, nem comer!
E outro proprietário, o mayor Crips, o mais duro castigador de homens, entra pelo bosque com uma carreta carregada de caldeiras de açúcar e peças de moinhos. Busca e encontra os seus escravos fugidos, que se reuniram e estão atando nós e escolhendo ramos, e diz-lhes:
– Continuem, continuem. Eu me enforcarei com vocês. Vou acompanhá-los. Comprei em África um grande engenho de açúcar, e lá vocês trabalharão para mim.
O mayor Crips escolhe a árvore maior, uma ceiba imensa; enlaça a corda à volta do seu próprio pescoço e enfia o nó corrediço. Os negros olham para ele, aturdidos, mas a sua cara é uma pura sombra por baixo do chapéu de palha, sombra que diz:
– Vamos, todos! Depressa! Preciso de braços na Guiné!"
Eduardo Galeano, Memória do Fogo – Os Nascimentos (tradução de António Marques; no prelo)
Não o sabe o corpo, que pouco sabe, nem o sabe a alma que respira, mas sabe-o a alma que sonha, que é a que mais sabe: o negro que se mata na América ressuscita em África. Muitos escravos desta ilha de Saint Kitts deixam-se morrer negando-se a comer ou comendo não mais do que terra, cinza e cal; e outros atam-se uma corda ao pescoço. Nos bosques, entre as lianas que pendem dos grandes salgueiros-chorões, pendem escravos que não somente matam, ao matarem-se, a sua memória de dores; ao matarem-se também iniciam, em branca canoa, a viagem de regresso às terras de origem.
Um tal Bouriau, dono de plantações, anda na folhagem, machadinho na mão, decapitando enforcados:
– Pendurem-se, se quiserem! – adverte os vivos. – Lá nos vossos países não terão cabeça nem poderão ver, nem ouvir, nem falar, nem comer!
E outro proprietário, o mayor Crips, o mais duro castigador de homens, entra pelo bosque com uma carreta carregada de caldeiras de açúcar e peças de moinhos. Busca e encontra os seus escravos fugidos, que se reuniram e estão atando nós e escolhendo ramos, e diz-lhes:
– Continuem, continuem. Eu me enforcarei com vocês. Vou acompanhá-los. Comprei em África um grande engenho de açúcar, e lá vocês trabalharão para mim.
O mayor Crips escolhe a árvore maior, uma ceiba imensa; enlaça a corda à volta do seu próprio pescoço e enfia o nó corrediço. Os negros olham para ele, aturdidos, mas a sua cara é uma pura sombra por baixo do chapéu de palha, sombra que diz:
– Vamos, todos! Depressa! Preciso de braços na Guiné!"
Eduardo Galeano, Memória do Fogo – Os Nascimentos (tradução de António Marques; no prelo)
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"Cláudia, a feiticeira"
"1674, Potosi.
Com a mão movia as nuvens e cantava ou afastava tormentos. Num abrir e fechar de olhos trazia gente de terras muito distantes e também da morte. A um corregedor das minas de Porco fez-lhe ver Madrid, a sua pátria, num espelho; e a dom Pedro de Ayamonte, que era de Utrera, serviu-lhe à mesa tortas recentemente feitas num forno de lá. Fazia brotar jardins nos desertos e tornava virgens as amantes mais sabidas. Salvava os perseguidos que buscavam refúgio em sua casa, transformando-os em cães e gatos. Ao mau tempo, boa cara, dizia, e à fome, guitarradas: tangia a viola e agitava a pandeireta e assim ressuscitava os tristes e os mortos. Podia dar aos mudos a fala e tirá-la aos charlatães. Fazia amor à intempérie, com um demónio mui negro, em pleno campo. A partir da meia-noite, voava.
Tinha nascido em Tucuman, e morreu, esta manhã, em Potosi. Em agonia chamou um padre jesuíta e disse-lhe que tirasse da gavetinha certos vultos de cera e lhes tirasse os alfinetes que tinham espetados, que assim se curariam cinco padres que ela tinha feito adoecer.
O sacerdote ofereceu-lhe confissão e misericórdia divina, mas ela riu-se e a rir morreu."
Eduardo Galeano, Memória do Fogo – Os Nascimentos (tradução de António Marques; no prelo)
Com a mão movia as nuvens e cantava ou afastava tormentos. Num abrir e fechar de olhos trazia gente de terras muito distantes e também da morte. A um corregedor das minas de Porco fez-lhe ver Madrid, a sua pátria, num espelho; e a dom Pedro de Ayamonte, que era de Utrera, serviu-lhe à mesa tortas recentemente feitas num forno de lá. Fazia brotar jardins nos desertos e tornava virgens as amantes mais sabidas. Salvava os perseguidos que buscavam refúgio em sua casa, transformando-os em cães e gatos. Ao mau tempo, boa cara, dizia, e à fome, guitarradas: tangia a viola e agitava a pandeireta e assim ressuscitava os tristes e os mortos. Podia dar aos mudos a fala e tirá-la aos charlatães. Fazia amor à intempérie, com um demónio mui negro, em pleno campo. A partir da meia-noite, voava.
Tinha nascido em Tucuman, e morreu, esta manhã, em Potosi. Em agonia chamou um padre jesuíta e disse-lhe que tirasse da gavetinha certos vultos de cera e lhes tirasse os alfinetes que tinham espetados, que assim se curariam cinco padres que ela tinha feito adoecer.
O sacerdote ofereceu-lhe confissão e misericórdia divina, mas ela riu-se e a rir morreu."
Eduardo Galeano, Memória do Fogo – Os Nascimentos (tradução de António Marques; no prelo)
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domingo, 3 de abril de 2011
"Os serventes brancos"
"1666, Londres.
Três barcos cheios de serventes brancos deslizam pelo Tamisa rumo ao mar. Quando abrirem as suas comportas, na remota ilha de Barbados, os vivos marcharão para as plantações de açúcar, algodão e tabaco, e os mortos para o fundo da baía.
'Espíritos' se chamam os traficantes de serventes brancos, bem mágicos na arte de evaporar gente: enviam para as Antilhas as putas e os vagabundos sequestrados nos bairros baixos de Londres, os jovens católicos caçados na Irlanda e na Escócia e os presos que esperavam pela forca no cárcere de Bristol por terem matado um coelho em terras privadas. Armazenados à chave, nos porões dos barcos, acordam os emborrachados apanhados nos cais, e com eles viajam até às Américas algumas crianças atraídas com guloseimas e muitos aventureiros enganados pela promessa de fortuna fácil. Lá, nas plantações de Barbados ou da Jamaica ou da Virgínia, lhes espremerão o sumo até que tenham pago o seu preço e o preço da passagem.
Os serventes brancos sonham em tornarem-se donos de terras e de negros. Quando recuperam a sua liberdade, ao cabo dos anos de dura penitência e trabalho sem salário, a primeira coisa que fazem é comprar um negro que lhe abane o leque à hora da sesta.
Há quarenta mil escravos africanos em Barbados. Os nascimentos registam-se nos livros de contabilidade das plantações. Ao nascer, um negrito vale meia libra."
Eduardo Galeano, Memória do Fogo – Os Nascimentos (tradução de António Marques; no prelo)
Três barcos cheios de serventes brancos deslizam pelo Tamisa rumo ao mar. Quando abrirem as suas comportas, na remota ilha de Barbados, os vivos marcharão para as plantações de açúcar, algodão e tabaco, e os mortos para o fundo da baía.
'Espíritos' se chamam os traficantes de serventes brancos, bem mágicos na arte de evaporar gente: enviam para as Antilhas as putas e os vagabundos sequestrados nos bairros baixos de Londres, os jovens católicos caçados na Irlanda e na Escócia e os presos que esperavam pela forca no cárcere de Bristol por terem matado um coelho em terras privadas. Armazenados à chave, nos porões dos barcos, acordam os emborrachados apanhados nos cais, e com eles viajam até às Américas algumas crianças atraídas com guloseimas e muitos aventureiros enganados pela promessa de fortuna fácil. Lá, nas plantações de Barbados ou da Jamaica ou da Virgínia, lhes espremerão o sumo até que tenham pago o seu preço e o preço da passagem.
Os serventes brancos sonham em tornarem-se donos de terras e de negros. Quando recuperam a sua liberdade, ao cabo dos anos de dura penitência e trabalho sem salário, a primeira coisa que fazem é comprar um negro que lhe abane o leque à hora da sesta.
Há quarenta mil escravos africanos em Barbados. Os nascimentos registam-se nos livros de contabilidade das plantações. Ao nascer, um negrito vale meia libra."
Eduardo Galeano, Memória do Fogo – Os Nascimentos (tradução de António Marques; no prelo)
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segunda-feira, 14 de março de 2011
"Texto de grande consistência e clareza"
Eis a recensão de Inês Botelho a A SIMBÓLICA DO ESPAÇO EM 'O SENHOR DOS ANÉIS de Maria do Rosário Monteiro, publicada no número 9 da revista BANG!.
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sábado, 5 de fevereiro de 2011
Ou a escrita ou a vida
Chama-se Pedro Chagas Freitas e é a "estrela" literária que vai estar na Porto Book Stock Fair a escrever 24 horas sem parar, esperemos que com alguma vaselina na ponta dos dedos. Diz que é o Mourinho da escrita criativa, mas a prosa soa a Carlos Queiroz...
Um pérola: "Aprenda, em pouco tempo, a escrever de forma irrepreensível e criativa. Sem secas. E sem ter sequer de sair de casa." ("Escrever" e "sair de casa" são, portanto, actos correlacionados e interdependentes; a "seca", presume-se, será a obrigação de ler, coisa de somenos para quem quer, afinal e apenas, escrever.)
Outra pérola: "Um dia, disseram-me que, na vida, teria de optar entre escrever e viver. Optei, sem hesitar, por escrever. E sei, hoje, que é ao escrever, e só ao escrever, que sou capaz de viver." (Mas quem lhe impôs essa fatal opção? A Gestapo? E, pela lógica da mesma, ele não deveria estar já morto? Não estará?)
Do mesmo planeta em que "editoras" prometem publicar "todos" os manuscritos recebidos (com a devida factura enviada ao "autor"), chegam os messias da escrita "criativa" (para não confundir com a escrita que não é criativa, como a dos oficiais de contas), no caso, os "Mourinhos" do processador de texto. A sua vida pode mudar. Basta ser escritor. E criativo. E "prontos".
Um pérola: "Aprenda, em pouco tempo, a escrever de forma irrepreensível e criativa. Sem secas. E sem ter sequer de sair de casa." ("Escrever" e "sair de casa" são, portanto, actos correlacionados e interdependentes; a "seca", presume-se, será a obrigação de ler, coisa de somenos para quem quer, afinal e apenas, escrever.)
Outra pérola: "Um dia, disseram-me que, na vida, teria de optar entre escrever e viver. Optei, sem hesitar, por escrever. E sei, hoje, que é ao escrever, e só ao escrever, que sou capaz de viver." (Mas quem lhe impôs essa fatal opção? A Gestapo? E, pela lógica da mesma, ele não deveria estar já morto? Não estará?)
Do mesmo planeta em que "editoras" prometem publicar "todos" os manuscritos recebidos (com a devida factura enviada ao "autor"), chegam os messias da escrita "criativa" (para não confundir com a escrita que não é criativa, como a dos oficiais de contas), no caso, os "Mourinhos" do processador de texto. A sua vida pode mudar. Basta ser escritor. E criativo. E "prontos".
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Entretanto. no Clubalice...
Entrevista em duas partes para o quinto número do Clubalice de Maria João Freitas: parte 1 e parte 2. Tudo o que quiseram (ou não) saber sobre a Livros de Areia, cubanos, Lolitas, revistas analógicas. E isso.
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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Nada de novo
Impressões do primeiro "Nada de cultura", emitido hoje à 1 hora da manhã na TVI24. Achei a conversa muito morna e algo formal: quatro pessoas do mesmo meio que se conhecem e se vêem há anos a tratarem-se por "você". (Seria uma estratégia para camuflar essa mesma proximidade perante a massa de espectadores alheios ao mundo da edição?) O estilo televisivo de Francisco José Viegas não muda há anos, e continua a faltar uma valente dose de contraditório e abrasão neste tipo de programas culturais (mesmo com o Pedro Mexia convenientemente colocado no "outro lado" da mesa): apesar do tratamento deferencial, há familiaridade em excesso. É preciso algo mais e mais dinâmico (e não apenas o frenético movimento da câmara sobre os rostos dos participantes) do que uma ligeira conversa de ocasião entre quatro colegas para manter os olhos abertos em frente ao monitor à 1 da manhã.
(PM)
(PM)
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Francisco José Viegas,
TV
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
"Condessa" de Lautréamont
"Coup sur coup, j'ai publié le Journal de Jeanne et Cataclysme sexuel, écrit par une jeune Elisabeth Chandet. C'était une petite personne a nattes, de seize ou dix-sept ans, le visage serein et angélique, un marquis de Sade en minijupe. Une imagination aussi débordante que celle de Mario [Mercier], mais avec une utilisation mieux surveillée de la syntaxe.
J'ai vendu les droits de Cataclysme sexuel a un éditeur portugais, après la révolution du 25 avril. Celui-ci m'avait demandé de changer le nom de l'auteur, avec la permission de l'intéressée, bien entendu. Nous acquiesçons a son désir. L'éditeur nous envoie nos exemplaires de presse. Stupéfaction, hilarité! Le livre portait 'Isidora Ducasse, comtesse de Lautréamont'".
(Eric Losfeld, Endetté comme une mulle ou la passion d'éditer, Belfond, Paris, 1979, p. 138)
P.S.: Alguém sabe de que editor e edição se tratou?
J'ai vendu les droits de Cataclysme sexuel a un éditeur portugais, après la révolution du 25 avril. Celui-ci m'avait demandé de changer le nom de l'auteur, avec la permission de l'intéressée, bien entendu. Nous acquiesçons a son désir. L'éditeur nous envoie nos exemplaires de presse. Stupéfaction, hilarité! Le livre portait 'Isidora Ducasse, comtesse de Lautréamont'".
(Eric Losfeld, Endetté comme une mulle ou la passion d'éditer, Belfond, Paris, 1979, p. 138)
P.S.: Alguém sabe de que editor e edição se tratou?
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Tolkien flipado
Leia aqui as primeiras 26 páginas de A SIMBÓLICA DO ESPAÇO EM 'O SENHOR DOS ANÉIS em versão "flipbook".
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