sábado, 10 de julho de 2010

Uruguai, Uruguai, Uruguai



O Uruguai, a segunda nação mais "portuguesa" da América do Sul (em que outro território se concentram mais Pereiras, Tabarez, Andrades, Varelas?), a nação que deu a maioridade ao futebol nos anos de 1920, com duas olimpíadas ganhas de seguida antes de ganhar o primeiro Mundial em 1930, que deu ao mundo o primeiro jogador negro de fama mundial, de nome Andrade (numa altura em que até no Brasil os jogadores negros ou não entravam ou tinham de pôr pó no rosto para parecerem menos negros), e cuja equipa teve o desplante de jogar bem e "roubar" a taça ao Brasil no jogo de estreia do gigantesco Maracanã em 1950, o Uruguai, dizia-se, merece estar nos três primeiros lugares deste Mundial. A única selecção que fez tremer a Holanda (e imagine-se o que seria com Luis Suarez em campo) e que teve em Forlán um legítimo herdeiro da classe de Schiaffino, Varela, Mazurkiewicz ou Francescoli estará de pleno direito na trindade final de nações "latinas" (qualquer holandês dirá que a Holanda é o mais latino dos países do Norte da Europa, e não foi por acaso que o futebol espanhol moderno foi "plantado" por dois holandeses nos anos de 1970).
Até Carlos Gardel deu o seu contributo à história de sucesso no futebol deste pequeno país, como conta Eduardo Galeano em FUTEBOL: SOL E SOMBRA:

Um jogador uruguaio, Adhemar Canavessi, sacrificou-se para esconjurar o dano da sua própria presença na final da Olimpíada de 1928, em Amsterdão. O Uruguai ia disputar essa final com a Argentina. Canavessi decidiu ficar no hotel e desceu do autocarro que levava os jogadores ao estádio. Todas as vezes que ele tinha jogado contra os argentinos, a selecção uruguaia tinha perdido, e na última ocasião ele tinha tido o infortúnio de marcar um golo na própria baliza. No jogo de Amsterdão, sem Canavessi, o Uruguai venceu. No dia anterior, Carlos Gardel tinha cantado para os jogadores argentinos no hotel onde estavam instalados. Para lhes dar sorte, tinha estreado um tango chamado "Dandy". Dois anos depois, a história repetiu-se: Gardel voltou a cantar "Dandy", desejando êxito à selecção argentina. Essa segunda vez foi em vésperas da final do Mundial de 1930, que o Uruguai também ganhou. Muitos juram que a intenção estava acima de qualquer suspeita, mas mais do que uma pessoa acredita que aí está a prova de que Gardel era uruguaio.
(Eduardo Galeano, "As Forças Ocultas" in Futebol: sol e sombra, tradução de Piedade Pires)

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