quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Prosa bancária

Duas linhas de texto que representam, na sua simplicidade, todo um sistema financeiro, toda uma era. Podem ser encontradas em qualquer modesto extracto bancário, sejam quais forem os montantes neles descritos, o que prova que a genialidade é também generosa e está, como dizem os que acreditam em Deus, em todas as coisas, sobretudo nas mais pequenas.
Numa linha o leitor incauto encontrará estas palavras: "comissão de manutenção de conta", no fim da qual um certo valor numérico é apresentado como tendo sido, digamos, subtraído às suas posses. Não refeito desse encontro fortuito, o leitor deparará logo com outra linha abaixo, que o informa – com a mesma firmeza e naturalidade com que Moisés comunicou os mandamentos divinos ao seu povo – de que um "selo sobre a comissão de manutenção de conta" foi aplicado (talvez feito de lacre, áulica substância!), sendo que também no final dessa linha um valor se apresenta como debitado.
Os deuses estão, de facto, nas pequenas coisas.
(PM)

2 comentários:

  1. Bem, selo, como sabes, é o imposto de selo que se aplica sobre todas as comissões (isto porque o IVA não incide sobre ganhos financeiros, só sobre actividades de valor acrescentado; o imposto de selo é uma aberração fiscal e mais uma forma de o estado meter a pata).

    Quanto à manutenção da conta, andas a negociar mal com o teu banco... ou com o banco errado... :) Devias ter um tipo de conta que não tenha manutenção de saldos mínimos. Aperta com o respectivo gestor.

    Abraços e boa sorte na negociação!
    LFS

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  2. Pequenas coisas, pequenas quantias. Mas grão a grão enche o banco o papo.

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