segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

50 anos da morte de um guarda-redes

"Em 1930, Albert Camus era o São Pedro que guardava os portões da baliza da equipa da Universidade de Argel. Tinha-se acostumado a jogar como guarda-redes desde criança, porque esse era o posto em que menos se gastavam os sapatos.
Filho de casa pobre, Camus não podia dar-se ao luxo de correr pelos campos de jogo: todas as noites, a avó fazia uma inspecção às solas dos seus sapatos e dava-lhe uma tareia se as visse gastas.
Durante os seus anos de guarda-redes, Camus aprendeu muitas coisas:
– Aprendi que a bola nunca vem até nós por onde a esperamos. Isso ajudou-me durante a vida, sobretudo nas grandes cidades, onde as pessoas não costumam ser propriamente rectas.
Também aprendeu a ganhar sem se sentir um Deus e a perder sem se sentir lixo, difíceis sabedorias, e aprendeu alguns dos mistérios da alma humana, em cujos labirintos soube penetrar depois, numa perigosa viagem, ao longo da sua obra."
(Eduardo Galeano, FUTEBOL:SOL E SOMBRA)

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