segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Da concorrência "desleal" (ainda)

Um post aqui colocado há dias atraiu um comentário que referia a "concorrência desleal" entre editoras, algo a despropósito do teor do referido post, que se limitava a apontar situações em que jornalistas ou críticos literários são, também, editores ou colaboradores regulares de editoras. O caso não era o de esses críticos escreverem sobre os livros das editoras aos quais estão ligados (como o enérgico comentador dava a entender), mas simplesmente de que se torna estranho para um editor enviar livros de amostra para uma pessoa que é, também ele ou ela, e a tempo parcial ou não tão parcial, um editor, logo, objectivamente um "concorrente".

Mas esse comentário "enxofrado" (para usar a terminologia praticada), trazendo a lume a "deslealdade", fez-me lembrar uma conversa que tive com um editor há uns 2 anos. Falando sobre o estado do "mercado", esse editor foi claro e duro na sua intenção de "subtileza": a solução para os males do dito mercado passaria pelo fecho de algumas editoras, sobretudo das pequenas e médias. A subtileza terá, como o proverbial verniz, estalado quando, ao dizê-lo, o seu olhar se cruzou com o meu, procurando quiçá uma anuência entusiástica ou, quando muito, um silêncio embaraçado. Devolvi-lhe um sorriso, o que não deve ter sido propriamente a resposta esperada.

Pois acontece que vim a descobrir que esse editor estava em situação, digamos, "precária" no que à Segurança Social diz respeito: do seu ÚNICO empregado nos quadros da empresa não eram pagas as devidas mensalidades há mais de 3 anos. Era, pois, uma empresa em clara situação de ilegalidade face a outras que optam por cumprir estritamente as suas obrigações fiscais, não sendo, contudo, e certamente, um caso raro ou único. A minha limitada concordância com as suas palavras nessa conversa prendia-se então com a forma da sua solução, o fecho de algumas editoras, mas divergia claramente no método de "selecção": eu achava, e continuo a achar, cada vez mais, que são as editoras que gastam fortunas em marketing, em obtenção de direitos de publicação, em impressão (abusando muitas vezes de um crédito que leva gráficas atrás de gráficas ao fecho), que pagam dois ou três stands na Feira do Livro mas que, apesar de anos de falta nas declarações às Finanças ou à Segurança Social, se livram de queixas à Inspecção Geral do Trabalho por parte dos seus empregados porque a dependência de um salário e uma ligação afectiva às empresas os impede, de facto, de pôr um termo a essas ilegalidades, que são essas editoras, repito, que deviam fechar ou terem a sua actividade suspensa até regularização da sua situação contributiva.

O facto de "ninguém ligar a isto", como escreveu o nosso expedito comentador, não deixa de fazer "disto" o verdadeiro cerne da questão da "concorrência".
(Pedro Marques)

3 comentários:

  1. E que tal dar nomes aos bois?

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  2. Você precisa de dar nomes aos bois para saber o que são?
    (PM)

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  3. Muito bem escrito, apoiado. E se calhar não sabe você do estado completo da situação de algumas "editoras" por aí.

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