quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Para depois do Natal
Mais duas edições para a série de livros de textos teatrais levados ao palco pela Companhia de Teatro de Almada. Duas propostas quase antagónicas (e daí, quem sabe, talvez não) que estreiam em Janeiro próximo: A Mãe de Bertold Brecht (com um agradecimento à Suhrkamp pela amável autorização de publicação) e Uma Visita Inoportuna, uma comédia frenética de Copi (ou Raul Damonte).
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sábado, 19 de dezembro de 2009
Editor: uma imagem em metamorfose
Este post do ex-editor da Cavalo de Ferro Hugo Xavier suscita-me algumas reflexões sobre o papel do editor, sobretudo numa fase de transição do papel tradicional e confortável do gestor criativo de projectos literários produzidos no seio de uma empresa (leia-se, com subalternos ou colegas responsáveis pela execução das diversas tarefas técnicas decorrentes dessa gestão e das decisões daí derivadas) para o de (como no caso) editor disponível ou no "desemprego", uma associação que enferma de uma contradição interna, pois se há sector do mercado de trabalho que menos "empregos" (leia-se, contratos de trabalho em full time) tem gerado ou mantido esse será certamente o da edição (pago um almoço a quem me mostrar, nos jornais da próxima semana, um anúncio vindo de uma editora ou grupo editorial que não seja da "área comercial").
Frequentei uma dessas pós-graduações especializadas em edição (frequência da qual, diga-se, não me arrependo), mas durante todo o tempo em que a frequentei, e até depois, ela não pesou um grama nas entrevistas ou contactos que tive para "empregos" (leia-se agora, prestações de serviço a recibo verde) na área da edição. Isso tirou-me de vez as dúvidas sobre o hipotético valor de uma formação especializada em edição como chave de entrada nesse suposto "mercado" editorial (foi o meu momento "novas oportunidades", mas serviu, como tal, de experiência).
A conclusão a que chego, após quase 4 anos dentro do projecto Livros de Areia, é a de que o editor, o pequeno e médio editor que não tem business angels ou uma estrutura corporativa a sustentá-lo, tem de, literalmente, saber fazer o livro todo de montante a jusante: dos contactos com os agentes à preparação do material de promoção (press releases, blogues e websites), passando pela paginação e design do livro, da sua revisão e (quando necessário) tradução, tudo isto tem de voltar a ser a "massa" do editor, e não apenas a "escolha" de bons livros para a "sua" chancela. A cultura e a erudição dentro dos conteúdos já não chega. Há um exemplo histórico dessa necessidade urgente de retoma dos "meios de produção" (um termo marxista que fica bem em época de bailouts à banca neo-liberal): a criação da Hogarth Press por Leonard e Virginia Woolf, dois intelectuais que, em meses, e por extrema urgência de publicar o que achavam que devia ser publicado, aprenderam e dominaram uma tecnologia bem mais exigente fisicamente (imaginam Virginia Woolf com tinta preta no sabugo das unhas partidas?) do que a que, agora, envolve um rato e um teclado de plástico (leiam Leonard and Virginia Woolf as Publishers de J. H. Willis).
Se hoje posso usar o (cada vez mais vulgarizado e ridiculamente pomposo) título de "editor", e se hoje o projecto que me permite usar esse título ainda existe, sem condenações em tribunal por más práticas laborais ou má fé no tratamento a prestadores de serviços, sem dívidas ao Estado ou a qualquer outro credor e com uma conta bancária no verde, é porque tudo o que diz respeito à produção dos livros que por cá se podem ir fazendo – salvo uma ou outra tradução, duas encomendas pontuais de ilustrações e, obviamente, a impressão final – sai das mãos que dirigem esse projecto (às quais se juntaram algumas outras, a quem devemos um enorme agradecimento). Esse seria, pois, o "conselho" (palavra muito pesada, mas para a qual não me ocorre nenhum sinónimo mais adequado) que daria a quem quer experimentar isto de ser "editor": olhem menos para o J. Peterman do Seinfeld, de cachimbo permanentemente aceso enquanto debitava as suas ideias "geniais" aos assistentes (e olhem ainda menos para as notícias das "transferências" milionárias entre chancelas de holdings editoriais), e mais para um Leonard Woolf suado, de mangas arregaçadas, a tentar compor uma linha de tipos metálicos num componedor para um poema de T. S. Elliot numa cave em Londres durante a I Guerra Mundial. Não será a imagem mais glamorosa, mas, nesta iminente metamorfose da imagem do "editor" em época de recessão mundial e de tecnologia barata e acessível, parece-me ser a mais inspiradora.
(PM)
Frequentei uma dessas pós-graduações especializadas em edição (frequência da qual, diga-se, não me arrependo), mas durante todo o tempo em que a frequentei, e até depois, ela não pesou um grama nas entrevistas ou contactos que tive para "empregos" (leia-se agora, prestações de serviço a recibo verde) na área da edição. Isso tirou-me de vez as dúvidas sobre o hipotético valor de uma formação especializada em edição como chave de entrada nesse suposto "mercado" editorial (foi o meu momento "novas oportunidades", mas serviu, como tal, de experiência).
A conclusão a que chego, após quase 4 anos dentro do projecto Livros de Areia, é a de que o editor, o pequeno e médio editor que não tem business angels ou uma estrutura corporativa a sustentá-lo, tem de, literalmente, saber fazer o livro todo de montante a jusante: dos contactos com os agentes à preparação do material de promoção (press releases, blogues e websites), passando pela paginação e design do livro, da sua revisão e (quando necessário) tradução, tudo isto tem de voltar a ser a "massa" do editor, e não apenas a "escolha" de bons livros para a "sua" chancela. A cultura e a erudição dentro dos conteúdos já não chega. Há um exemplo histórico dessa necessidade urgente de retoma dos "meios de produção" (um termo marxista que fica bem em época de bailouts à banca neo-liberal): a criação da Hogarth Press por Leonard e Virginia Woolf, dois intelectuais que, em meses, e por extrema urgência de publicar o que achavam que devia ser publicado, aprenderam e dominaram uma tecnologia bem mais exigente fisicamente (imaginam Virginia Woolf com tinta preta no sabugo das unhas partidas?) do que a que, agora, envolve um rato e um teclado de plástico (leiam Leonard and Virginia Woolf as Publishers de J. H. Willis).
Se hoje posso usar o (cada vez mais vulgarizado e ridiculamente pomposo) título de "editor", e se hoje o projecto que me permite usar esse título ainda existe, sem condenações em tribunal por más práticas laborais ou má fé no tratamento a prestadores de serviços, sem dívidas ao Estado ou a qualquer outro credor e com uma conta bancária no verde, é porque tudo o que diz respeito à produção dos livros que por cá se podem ir fazendo – salvo uma ou outra tradução, duas encomendas pontuais de ilustrações e, obviamente, a impressão final – sai das mãos que dirigem esse projecto (às quais se juntaram algumas outras, a quem devemos um enorme agradecimento). Esse seria, pois, o "conselho" (palavra muito pesada, mas para a qual não me ocorre nenhum sinónimo mais adequado) que daria a quem quer experimentar isto de ser "editor": olhem menos para o J. Peterman do Seinfeld, de cachimbo permanentemente aceso enquanto debitava as suas ideias "geniais" aos assistentes (e olhem ainda menos para as notícias das "transferências" milionárias entre chancelas de holdings editoriais), e mais para um Leonard Woolf suado, de mangas arregaçadas, a tentar compor uma linha de tipos metálicos num componedor para um poema de T. S. Elliot numa cave em Londres durante a I Guerra Mundial. Não será a imagem mais glamorosa, mas, nesta iminente metamorfose da imagem do "editor" em época de recessão mundial e de tecnologia barata e acessível, parece-me ser a mais inspiradora.
(PM)
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terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Desolação: duas imagens
Duas imagens de livros à venda (ou que já o tinham estado) que registei (ainda que não mecânica ou digitalmente, i.e., não tenho uma foto como testemunho) no início de Dezembro, e que me parecem ilustrar, infelizmente, um aparente fracasso de duas vias alternativas ao comércio de livros tradicional, ou seja, a venda em livrarias de pequena ou grande dimensão.
Na Rua Áurea, os restos da que foi durante uns meses a livraria da Cavalo de Ferro são uma triste prova da impossibilidade de recuperar um modelo "clássico" de comércio de livros: o da livraria de editora. Independentemente das contingências deste projecto em particular (e sobre elas não quero elaborar, nem posso dada a minha ignorância da matéria em causa), mete dó ver livros abandonados como se no momento anterior a um cataclismo em plena Baixa de Lisboa, as capas retorcidas e descoloradas pela exposição ao sol, pó por todo o lado, penumbra ao fundo.
Um dia depois, no corredor subterrâneo de acesso ao edifício principal da Estação de Campanhã. A azáfama dos passageiros que vão para as bilheteiras ou vêm destas para os comboios parece ignorar por completo uma máquina de venda de livros da Leya. A máquina ao lado, que vende guloseimas e bebidas, é disputada por 3 ou 4 miúdos, com uma agressividade que atrai um dos seguranças. Fico com a sensação de que se quisesse vandalizar a máquina da Leya estaria a fazer um favor a alguém, e o máximo que o segurança me perguntaria (se é que dava por isso) seria: "para quê?"
(PM)
Na Rua Áurea, os restos da que foi durante uns meses a livraria da Cavalo de Ferro são uma triste prova da impossibilidade de recuperar um modelo "clássico" de comércio de livros: o da livraria de editora. Independentemente das contingências deste projecto em particular (e sobre elas não quero elaborar, nem posso dada a minha ignorância da matéria em causa), mete dó ver livros abandonados como se no momento anterior a um cataclismo em plena Baixa de Lisboa, as capas retorcidas e descoloradas pela exposição ao sol, pó por todo o lado, penumbra ao fundo.
Um dia depois, no corredor subterrâneo de acesso ao edifício principal da Estação de Campanhã. A azáfama dos passageiros que vão para as bilheteiras ou vêm destas para os comboios parece ignorar por completo uma máquina de venda de livros da Leya. A máquina ao lado, que vende guloseimas e bebidas, é disputada por 3 ou 4 miúdos, com uma agressividade que atrai um dos seguranças. Fico com a sensação de que se quisesse vandalizar a máquina da Leya estaria a fazer um favor a alguém, e o máximo que o segurança me perguntaria (se é que dava por isso) seria: "para quê?"
(PM)
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sábado, 12 de dezembro de 2009
BURACOS NEGROS é um dos 52
O nosso único livro de 2009 (estávamos a contar com um ano de retoma, mas a crise obrigou a uma maior contenção) acaba de ser escolhido como um dos 52 livros do ano (um por cada semana) pela revista LER (edição de Dezembro, p. 55). BURACOS NEGROS de Lázaro Covadlo é um dos 52 títulos em destaque.
Apenas discordamos da frase de chamada na capa: "títulos que só deviam vender-se com receita médica. Porque são bons". Está na altura de se perceber que a qualidade literária (ou de edição) não exige obrigatoriamente sacrifícios por parte dos interessados: está acessível por pouco dinheiro e sem necessidade de "receitas". E se as livrarias a escondem ou devolvem após pouco tempo de exposição (se é que a expõem de todo...), então será a net a fazer chegar essa qualidade às mãos de quem a procura. Porque a qualidade é o prémio de quem é proactivo e curioso, e não de quem se queixa de que "não viu o livro na livraria". (Disclaimer: quem concluir que destas palavras se pode inferir que uma livraria pode ser um buraco negro, onde certos livros desaparecem mal chegam, deverá fazê-lo sem imputar-nos a responsabilidade dessa conclusão.)
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