Uma das mais estúpidas manchetes do ano (e o nível de estupidez na informação começa a atingir o vermelho na escala de Orwell) foi sem dúvida esta da
Folha de S. Paulo:
"Livros eletrônicos reduzem estigmas da leitura solitária" (na verdade, uma tradução de um
artigo escrito por Austin Considine e publicado no
New York Times em 20 de Agosto, prova – mais uma – da morte lenta desse jornal). A perplexidade atinge-nos de vários lados ao lermos isto, e o lado pelo qual vemos uma clara campanha de promoção dos
gadgets de leitura de
ebooks não é despiciendo (a foto que ilustra o artigo no site do NYT tem uma modelo a mostrar um ipad, ou seja, uma redundância). Chegamos, pois (ou regredimos), ao ponto da história da civilização em que ter um livro "tradicional" na mão equivale a confessarmos um vício na masturbação compulsiva ou na troca de seringas de heroína, estigmas que apenas a leitura de um livro "electrónico" parece reduzir ou até eliminar. (Sinal do apocalipse: no site de uma editora portuguesa promete-se enviar os livros por correio em "embalagem discreta"...)