segunda-feira, 8 de março de 2010

Maria como as outras, afinal

A holding Leya (detentora de quase metade do mercado da edição portuguesa) veio reconhecer que a destruição de milhares de exemplares de edições históricas de algumas das suas chncelas foi uma medida "extrema", mas causada pela inexistência de "alternativas". Afinal, a mesma Leya que tomou de assalto a Feira do Livro de Lisboa em 2008, criando medidas de excepção para erigir uma pequena feira-dentro-da-feira, a mesma Leya que anda a comprar (ou a tentar) editoras e livrarias no Brasil, a mesma que parece rir-se dos que ainda se lembram da legislação anti-trust, é, afinal, como todas as outras, como nós até (meu deus, a emoção!), escrava da "falta de alternativas", sem espaço de armazenamento, sem vias de escoamento e valorização de livros procurados de autores de culto.

Recompondo-me do frémito emotivo que me assaltou, desta vaga de empatia pelo pobre Golias, e tendo lido e concordado em parte com o texto de Hugo Xavier sobre o assunto, devo apenas dizer que me parece que a Leya procura uma imagem de excepção e força quando lhe convém, mas que, quando o Miguel Esteves Cardoso os manda "foder" e a Ministra da Cultura pede explicações (ela, cujo ministério, infelizmente, teria de dar também muitas explicações sobre a negligência e o laissez-faire no que toca ao comércio do livro...), se refugia numa imagem de Maria com as outras, e tão Maria como elas. Tratar esta poderosa holding (com capacidade, mas não vontade, de criar alternativas a estas práticas tradicionais) como apenas mais um caso de editores-a-fazerem-o-que-todos-os-outros-editores-fazem é, precisamente, fazer o jogo dela.
(PM)

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